sábado, 31 de janeiro de 2015


Atos 1.8

E RECEBEREIS PODER...

Esse texto sempre me chamou a atenção. Muitos pregadores pregam sobre esse poder sempre ligado as coisas fantásticas que o Senhor fazia antes. Mas qual é a verdade desta passagem?  Será que esse poder está somente se referindo a fazer prodígios e maravilhas em nome de Jesus? Será que todo esse texto se resume a isso? 

Eu creio que essa visão é influência da teologia pentecostal tão forte em nossos dias. Tendemos a ver o poder sempre ligado a curas, sinais e prodígios. Não quero dizer que esse poder também engloba esses sinais, mas eu vejo algo além disso, e não somente isso.



Esse poder era uma promessa de nosso senhor para seus discípulos que formariam a igreja. Eles ainda não tinham recebido o Espírito da promessa e ainda eram homens comuns, cheio de medo e pavor. Após a morte de Jesus, os discípulos temiam por suas vidas e por isso viviam escondidos, não professando sua fé abertamente.

Mas o que chama a atenção é o significado da palavra testemunhas no grego. Testemunha é marturios, que significa mártires. Lendo o texto trocando as palavras fica assim:
E serão meus mártires...

O ser testemunha de Jesus é respirar ameaça de morte todos os dias por amor ao seu mestre. E aqueles discípulos entenderam, com certeza, as implicações de seguir a Cristo. E esse texto nos revela que os cristãos foram chamados para serem mártires. Não pessoas que procuram a própria morte, mas discípulos prontos a testemunhar do seu Senhor mesmo que isso lhe custe à vida.

Paulo, o apóstolo, foi uma das maiores testemunhas do Senhor. Ele não amava sua própria vida, e um dia ele a entregou a seu mestre quando escreveu que “não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim”. Quando alguém crê em Jesus, assina seu atestado de óbito, um termo de responsabilidade pela decisão tomada. Essa verdade o senhor nunca ocultou da igreja. Quem oculta isso são os pregadores do triunfo que enganam o povo oferecendo mentiras. O que a bíblia nos ensina é que a qualquer hora ou momento podemos ser instados a confessar o nome de nosso Senhor perante homens maus e violentos.

Paulo sabia disso e se doou totalmente ao evangelho, e por isso Deus lhe concedeu poder para testemunhar. Esse poder relatado em Atos 1.8, é a energia divina sobre um servo para que ele não ame a sua própria vida em testemunho de sua fé em Cristo sem medo e pavor.
Esse poder não é para sentir, mas para testemunhar.

Por que aqueles irmãos eram tão firmes em face da morte? Por causa desse poder que repousava sobre eles. O nosso senhor disse que quem ama a sua própria vida irá perde-lá, e quem quiser salvar a sua vida deve segui-lo. E qual é o caminho do cordeiro? A cruz. O morrer diariamente para o pecado e estar pronto a testemunhar com a vida a qualquer momento. É viver inteiramente para que o Senhor seja glorificado, seja em vida ou em face da morte.

Eu me lembro da historia de um missionário que estava indo evangelizar uma tribo selvagem conhecida por seu ato de canibalismo. Seus amigos diziam que “ele iria morrer”. E serenamente ele respondeu que “já estava morto”. Ele havia assinado a sua sentença de morte quando se rendeu a Cristo.

Ser testemunha do Senhor Jesus não é louvar o martírio, como montano fez no inicio da igreja. Nem buscar a própria morte, como Orígenes, sendo este impedido por sua mãe. Mas estar pronto para se sacrificar por seu salvador e por seus irmãos. Como diz uma musica, para que outros possam viver vale à pena morrer.

O Senhor sabia desde o principio que tinha que passar pela morte. Ele era a primeira testemunha. E era através de sua morte que nós viveríamos. O grão de trigo fica só se não se sacrificar. Por isso a boa semente tinha que ser plantada e na cruz Ele atraiu muitos para si.

Como Paulo foi salvo? Pelo testemunho de um mártir chamado Estevão. E que grande homem ele foi. Quando Estevão foi chamado, era uma simples tarefa que ele tinha que cumprir. Mas essa testemunha era cheio do Espírito Santo. E Deus o levou para além do servir as viúvas, o levou para ser testemunha entre o seu povo e diante dos lideres de Israel.

Atos 6.8 nos diz que Estevão, cheio de graça e poder, fazia sinais e prodígios. Mas a principal marca desse poder do Espírito sobre ele era o que viria depois. Ele estava cheio da força divina para testificar de seu mestre diante de um sinédrio furioso. E entre eles estava o jovem Paulo que narrou o impacto desse grande testemunho para o evangelista Lucas. Estevão coroou seu testemunho entregando sua vida por aquele que morreu por ele, para a salvação daqueles que o mataria. Esse é o caminho do cordeiro. Isso é ser seguidor de Jesus.

Quando o grão de trigo morreu na cruz, atraiu Estevão, e esse homem ao morrer, atraiu Paulo, que viria a ser o maior dos apóstolos. O poder do testemunho diante da morte é tão forte que o império romano foi conquistado sem o brandir de nenhuma espada. Foi o poder do testemunho diante do martírio que conquistou o mundo. E satanás sabe disso. Ele conhece a força do poder daqueles que estão cheios do Espírito. Por isso todas as testemunhas que morrerão na grande tribulação debaixo de sua ira, morrerão de uma forma que não pareça que seja martírio. Ele ocultará o testemunho dos mártires.

O derramar do Espírito sobre a igreja não foi para que sentíssemos um arrepio, ou uma sensação boa ligado as nossas emoções. Não foi para que falássemos línguas sem nenhum objetivo, ou para caminharmos no fogo só porque é bom. Não nego que quando o Espírito se derrama sobre a igreja, a emoção do povo é tocada. O que quero dizer é que o derramar do Espírito foi, é, e sempre será para equipar a igreja a fim de testemunhar, pregando o evangelho com ousadia e autoridade.

Sempre que a bíblia menciona o poder do Espírito, ela aponta para obra de testemunhar, como está escrito em Atos 4.33. Esse é o principal sinal do batismo no Espírito. É fazer do discípulo, antes uma pessoa cheia de medo e pavor, em um mártir de Cristo. O que adianta falar em línguas se não há testemunho. Não descarto as manifestações dos dons, creio na contemporaneidade de cada um deles.

Mas quando há testemunho, há a evidencia do batismo no Espírito Santo.

O poder do Espírito é para obra, enquanto o habitar do Espírito é para frutificação. Quando o Espírito vem sobre a igreja, Ele vem para lhe dar poder para testemunhar, glorificando o nome do Senhor com sua vida e obra. Esse poder nos capacita a ir sem medo e temor.

Oh, como a igreja precisa do Espírito vindo sobre ela. Como ela precisa ser cheia do Espírito. Só assim a igreja será capacitada e impactada para não temer mais nada, nem homem e nem a morte. Para que não temamos mais a acusação de Satanás, nem da nossa consciência.

Somente quando estivermos cheios do poder do Espírito, estaremos cheios de autoridade contra o mundo, o pecado e o diabo. Ore ao senhor dizendo, batiza-me com o batismo de poder para que eu seja um mártir por ti. Para que eu possa morrer, para que outros possam viver. Para que eu seja ousado diante dos homens e glorifique o teu Nome perante eles.
Soli Deo Gloria
spc

2 comentários:

  1. Muito bom o texto. Pena que as pessoas assimilam o termo "testemunhas" com poder, dando enfase somente as manifestações dos dons.

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  2. Muito bom o texto. Pena que as pessoas assimilam o termo "testemunhas" com poder, dando enfase somente as manifestações dos dons.

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