Atos 1.8
E RECEBEREIS
PODER...
Esse texto sempre me chamou a atenção. Muitos pregadores
pregam sobre esse poder sempre ligado as coisas fantásticas que o Senhor fazia
antes. Mas qual é a verdade desta passagem? Será que esse poder está somente se referindo
a fazer prodígios e maravilhas em nome de Jesus? Será que todo esse texto se
resume a isso?
Eu creio que essa visão é influência da teologia pentecostal
tão forte em nossos dias. Tendemos a ver o poder sempre ligado a curas, sinais
e prodígios. Não quero dizer que esse poder também engloba esses sinais, mas eu
vejo algo além disso, e não somente isso.
Esse poder era uma promessa de nosso senhor para seus discípulos
que formariam a igreja. Eles ainda não tinham recebido o Espírito da promessa e
ainda eram homens comuns, cheio de medo e pavor. Após a morte de Jesus, os discípulos
temiam por suas vidas e por isso viviam escondidos, não professando sua fé
abertamente.
Mas o que chama a atenção é o significado da palavra
testemunhas no grego. Testemunha é marturios, que significa mártires. Lendo o
texto trocando as palavras fica assim:
E serão meus mártires...
O ser testemunha de Jesus é respirar ameaça de morte todos os
dias por amor ao seu mestre. E aqueles discípulos entenderam, com certeza, as
implicações de seguir a Cristo. E esse texto nos revela que os cristãos foram
chamados para serem mártires. Não pessoas que procuram a própria morte, mas discípulos
prontos a testemunhar do seu Senhor mesmo que isso lhe custe à vida.
Paulo, o apóstolo, foi uma das maiores testemunhas do Senhor.
Ele não amava sua própria vida, e um dia ele a entregou a seu mestre quando
escreveu que “não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim”. Quando alguém crê em
Jesus, assina seu atestado de óbito, um termo de responsabilidade pela decisão
tomada. Essa verdade o senhor nunca ocultou da igreja. Quem oculta isso são os
pregadores do triunfo que enganam o povo oferecendo mentiras. O que a bíblia
nos ensina é que a qualquer hora ou momento podemos ser instados a confessar o
nome de nosso Senhor perante homens maus e violentos.
Paulo sabia disso e se doou totalmente ao evangelho, e por
isso Deus lhe concedeu poder para testemunhar. Esse poder relatado em Atos 1.8,
é a energia divina sobre um servo para que ele não ame a sua própria vida em
testemunho de sua fé em Cristo sem medo e pavor.
Esse poder não é para sentir, mas para testemunhar.
Por que aqueles irmãos eram tão firmes em face da morte? Por
causa desse poder que repousava sobre eles. O nosso senhor disse que quem ama a
sua própria vida irá perde-lá, e quem quiser salvar a sua vida deve segui-lo. E
qual é o caminho do cordeiro? A cruz. O morrer diariamente para o pecado e
estar pronto a testemunhar com a vida a qualquer momento. É viver inteiramente
para que o Senhor seja glorificado, seja em vida ou em face da morte.
Eu me lembro da historia de um missionário que estava indo
evangelizar uma tribo selvagem conhecida por seu ato de canibalismo. Seus
amigos diziam que “ele iria morrer”. E serenamente ele respondeu que “já estava
morto”. Ele havia assinado a sua sentença de morte quando se rendeu a Cristo.
Ser testemunha do Senhor Jesus não é louvar o martírio, como
montano fez no inicio da igreja. Nem buscar a própria morte, como Orígenes,
sendo este impedido por sua mãe. Mas estar pronto para se sacrificar por seu
salvador e por seus irmãos. Como diz uma musica, para que outros possam viver
vale à pena morrer.
O Senhor sabia desde o principio que tinha que passar pela
morte. Ele era a primeira testemunha. E era através de sua morte que nós
viveríamos. O grão de trigo fica só se não se sacrificar. Por isso a boa
semente tinha que ser plantada e na cruz Ele atraiu muitos para si.
Como Paulo foi salvo? Pelo testemunho de um mártir chamado Estevão.
E que grande homem ele foi. Quando Estevão foi chamado, era uma simples tarefa
que ele tinha que cumprir. Mas essa testemunha era cheio do Espírito Santo. E
Deus o levou para além do servir as viúvas, o levou para ser testemunha entre o
seu povo e diante dos lideres de Israel.
Atos 6.8 nos diz que Estevão, cheio de graça e poder, fazia
sinais e prodígios. Mas a principal marca desse poder do Espírito sobre ele era
o que viria depois. Ele estava cheio da força divina para testificar de seu
mestre diante de um sinédrio furioso. E entre eles estava o jovem Paulo que
narrou o impacto desse grande testemunho para o evangelista Lucas. Estevão
coroou seu testemunho entregando sua vida por aquele que morreu por ele, para a
salvação daqueles que o mataria. Esse é o caminho do cordeiro. Isso é ser seguidor
de Jesus.
Quando o grão de trigo morreu na cruz, atraiu Estevão, e esse
homem ao morrer, atraiu Paulo, que viria a ser o maior dos apóstolos. O poder
do testemunho diante da morte é tão forte que o império romano foi conquistado
sem o brandir de nenhuma espada. Foi o poder do testemunho diante do martírio
que conquistou o mundo. E satanás sabe disso. Ele conhece a força do poder daqueles
que estão cheios do Espírito. Por isso todas as testemunhas que morrerão na
grande tribulação debaixo de sua ira, morrerão de uma forma que não pareça que
seja martírio. Ele ocultará o testemunho dos mártires.
O derramar do Espírito sobre a igreja não foi para que sentíssemos
um arrepio, ou uma sensação boa ligado as nossas emoções. Não foi para que falássemos
línguas sem nenhum objetivo, ou para caminharmos no fogo só porque é bom. Não
nego que quando o Espírito se derrama sobre a igreja, a emoção do povo é
tocada. O que quero dizer é que o derramar do Espírito foi, é, e sempre será
para equipar a igreja a fim de testemunhar, pregando o evangelho com ousadia e
autoridade.
Sempre que a bíblia menciona o poder do Espírito, ela aponta
para obra de testemunhar, como está escrito em Atos 4.33. Esse é o principal
sinal do batismo no Espírito. É fazer do discípulo, antes uma pessoa cheia de
medo e pavor, em um mártir de Cristo. O que adianta falar em línguas se não há
testemunho. Não descarto as manifestações dos dons, creio na contemporaneidade
de cada um deles.
Mas quando há testemunho, há a evidencia do batismo no Espírito
Santo.
O poder do Espírito é para obra, enquanto o habitar do Espírito
é para frutificação. Quando o Espírito vem sobre a igreja, Ele vem para lhe dar
poder para testemunhar, glorificando o nome do Senhor com sua vida e obra. Esse
poder nos capacita a ir sem medo e temor.
Oh, como a igreja precisa do Espírito vindo sobre ela. Como
ela precisa ser cheia do Espírito. Só assim a igreja será capacitada e
impactada para não temer mais nada, nem homem e nem a morte. Para que não
temamos mais a acusação de Satanás, nem da nossa consciência.
Somente quando estivermos cheios do poder do Espírito,
estaremos cheios de autoridade contra o mundo, o pecado e o diabo. Ore ao
senhor dizendo, batiza-me com o batismo de poder para que eu seja um mártir por
ti. Para que eu possa morrer, para que outros possam viver. Para que eu seja
ousado diante dos homens e glorifique o teu Nome perante eles.
Soli Deo Gloriaspc
Muito bom o texto. Pena que as pessoas assimilam o termo "testemunhas" com poder, dando enfase somente as manifestações dos dons.
ResponderExcluirMuito bom o texto. Pena que as pessoas assimilam o termo "testemunhas" com poder, dando enfase somente as manifestações dos dons.
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