O IMPACTO DO PRAGMATISMO FINNEYANO NAS MISSÕES
charles Finney é
considerado o pai do avivamento moderno, responsável pelo fortalecimento do
movimento pentecostal e do pragmatismo evangélico.
Segundo o Pastor Dinelcir de Souza Lima, o reavivalista norte-americano
de grande influência, autor de uma Teologia
sistemática de grande utilização entre os pentecostais estadunidenses, o
primeiro a chamar a experiência ensinada por John Wesley de Santificação de
“batismo no Espírito Santo” foi Charles Finney (LIMA, 2008).
HORTON enumera algumas das heranças do ministério finneyano; declara que
as novas medidas de Charles Finney incluíam o banco dos ansiosos (precursor do
atual apelo para vir à frente), táticas emocionais, que levavam as pessoas a
sentirem-se desesperadas e chorarem, e outros “incentivos”, como ele e seus seguidores
as chamavam. Os outros incentivos seriam o avivalismo, o perfeccionismo e o
emocionalismo pentecostal, e as tendências anti-intelectuais e
anti-doutrinárias do fundamentalismo e evangelicalismo moderno (HORTON, 1995).
O Professor Alvin L. Reid, citado por Rick Nelson atribuiu a FINNEY o
ímpeto para a mudança do trabalho de Deus, ao trabalho dos homens no reavivamentos
e no despertar espiritual. O convite público, os cultos de larga duração (agora
chamados serviços de avivamento ou simplesmente avivamento) e a preparação de
tais reuniões podem ser atribuídos, em grande medida, à sua técnica (NELSON,
[s.d]).
Na obra Cristianismo pagão,
Frank Viola enumera outras influências de Charles Finney:
Ele ensinava que o
único propósito da pregação é ganhar almas[...] Finney elevou o “apelo ao
altar” ao nível de uma obra de arte. Seu método consistia em pedir àqueles que
queriam ser salvos para que se levantassem e fossem à frente. Finney tornou
esse método tão popular que após 1835, chegou a ser um elemento indispensável
no moderno revivamento [...] Sob Finney, o evangelismo do século XVIII se
converteu em uma ciência e foi integrado à corrente principal das igrejas. Em
todos os aspectos, o Evangelismo Fronteiriço Americano converteu a igreja em um
ponto de pregação. Restringindo a experiência da ekklesia a uma missão
evangelística. Isto normatizou os métodos revivalísticos de Finney e criou
personalidades do púlpito como a atração dominante. A igreja passou a ser uma
questão de preferência individual em vez de ser uma questão coletiva. Em outras
palavras, a meta dos Evangelistas Fronteiriços era levar pecadores individualmente
a uma decisão individual por uma fé individualista. Como resultado, a meta da
Igreja Primitiva, a edificação mútua e o funcionamento de cada membro
manifestando Jesus Cristo coletivamente diante dos principados e potestades, perderam-se
completamente. Ironicamente, João Wesley, um dos primeiros revivalistas,
compreendeu os perigos do movimento revivalista. Ele escreveu que “o
cristianismo é essencialmente uma religião social [...] transformá-lo em uma
religião solitária é certamente sua destruição”. (VIOLA, 2005)
Monte Wilson, citado por Rick Nelson, concluiu que as conseqüências das
inovações de FINNEY para a Igreja de Cristo são a idéia de que os avivamentos
poderiam ser planejados, promovidos e propagados pelo homem. Portanto, a
tendência moderna de confiar em técnicas para a preparação das campanhas
avivadas pode ser atribuída à aceitação das premissas de Charles Finney. (NELSON,
[s.d]).
Todas estas inovações foram criadas pela sua não aceitação da doutrina hipercalvinista.
FINNEY descentralizou a soberania de Deus e centralizou na responsabilidade do
homem o agente moral livre. Seu trabalho acabou por consolidar assim o nascimento
do pragmatismo religioso.
Assim descreveu MACARTHUR a ideologia pragmática finneyana:
O sucesso de qualquer medida destinada a promover um
avivamento da religião demonstra a sabedoria... Quando a benção acompanha a
introdução de certa medida, é irrefutável a prova de que certa medida é sábia.
É profano afirmar que esta medida causará mais prejuízo do que bem. Deus sabe
disso. O seu objetivo é fazer a maior quantidade possível de bem. (MACHARTHUR, 2004)
FINNEY se preocupava e se interessava pelos resultados e pelo sucesso de
suas pregações. Segundo ele, uma resposta positiva, seja na conversão, no
avivamento, no evangelismo ou no batismo com o Espírito Santo, prova que aquela
medida foi sábia e que deu resultados.
Na obra intitulada Com vergonha do
evangelho MACARTHUR, descreve o movimento de crescimento da Igreja. Ele
percebeu que a base desse movimento e sua filosofia de ministério não se
encontravam nas escrituras, mas sim na filosofia norteada pelo marketing
religioso; não era ela extraída das palavras de Paulo, mas das teorias de
gerenciamento, dos empreendimentos modernos e da Psicologia (MACARTHUR, 2004)
Estas teorias foram implantadas por Donald MacGravan, em 1930. Após anos
de esforço e muito trabalho no campo missionário, ele percebeu que as agências
tinham que desenvolver estratégias para missões, que observasse quais métodos
produziam resultados e quais não funcionavam. Portanto o movimento de
crescimento da Igreja é um fenômeno recente, fruto direto de uma ideologia
pragmática (MACARTHUR, 2004).
Assim MACARTHUR descreve o movimento:
Criamos métodos e políticas missionárias à luz do que
deus abençoou e à luz daquilo que Ele, obviamente não abençoou. A indústria
chama isso de modificar operações à luz da realimentação. Nada atrapalha tanto
missões transculturais quanto aos métodos, instituições e políticas que
deveriam multiplicar as igrejas, mas não o fazem. Ensinamos os homens a serem implacáveis
em relação ao método. Se um método não contribui para a glória de Deus e para a
expansão da igreja de Cristo, jogue-o fora e arranje algo que faça. Quanto aos
métodos, somos ousadamente pragmáticos: a doutrina é algo diferente. (MACARTHUR,
2004)
Na verdade as palavras de Donald
MacGravan são ecos das palavras de Charles
Finney com uma nova roupagem. O Pragmatismo tornou-se a base filosófica
para quase tudo que MACGRAVAN ensinou, e a agenda de todo o movimento moderno
de crescimento da Igreja.
Entretanto, um irresistível surto de pragmatismo está
permeando o evangelicalismo. A metodologia tradicional, especialmente a
pregação, estão sendo descartada e menosprezada em favor de novos métodos, tais
como dramatização, dança comédia, variedades, grandiosas atrações, concertos
populares e outras formas de entretenimento. Esses novos métodos são,
supostamente, mais eficazes, ou seja, atraem grandes multidões. E, visto que,
para muitos, a quantidade de pessoas nos cultos tornou-se o principal critério
para se avaliar o sucesso de uma igreja, aquilo que mais atrair o público é
aceito como bom, sem uma análise crítica. Isso é pragmatismo. (MACARTHUR, 2004)
A grave conseqüência foi à modificação da Igreja que deixou de ser vista
como o Corpo de Cristo, um organismo vivo, e passou a ser encarada como uma
empresa, um clube fechado, onde as pessoas se tornaram os clientes e o
evangelho se tornou o produto a ser vendido.
Segundo a metodologia do marketing, o produto não pode ser ofensivo à
clientela. Tudo é direcionado para agradar o homem; quanto mais confortável se
sentir o fiel, mais a Igreja crescerá. De acordo com MACARTHUR, o objetivo de
todo marketing é deixar o produtor e o consumidor satisfeitos; então tudo o que
tende a deixar o consumidor insatisfeito precisa ser descartado (MACARTHUR, 2004).
A pregação sobre o inferno, o pecado, o arrependimento, a cruz, o juízo e
as demais doutrinas cristãs ficaram de fora da pauta de fortalecimento da
Igreja.
Toda a questão está direcionada para o resultado. Se qualquer metodologia
introduzida na Igreja é eficaz em produzir o efeito desejado, isto prova que
ela tem que ser aplicada. Para HORTON, o pragmatismo é uma filosofia que
empurra para a periferia uma série de princípios fundamentais e elege, como único fator
relevante, a questão: “Isso funciona?”.
Muitos
dos movimentos que se intitulam “avivados”, em nossos dias, simplesmente estão
reavivando o narcisismo, ou seja: a adoração do “eu”. Isso pode ser visto na
declaração de um desses pastores que afirmou: “A Reforma errou porque foi
centralizada em Deus e não no homem, como devia ser” [...] O que está
acontecendo é que a piedade e a santidade deixaram de ser os referenciais pelos
quais julgamos se um movimento é ou não é do Espírito. Assim, o critério que
tem sido adotado é: “Funciona? Vai me fazer feliz? Vai me ajudar a criar minha
família? Vai consertar o meu casamento?”. Todas essas questões são importantes,
à luz das Escrituras, mas não são as mais importantes. (HORTON, 1997)
O problema do pragmatismo religioso é a exclusão de temas como a adoção, a
regeneração, a justificação, a santificação e a degradação do ser humano. “Pregue
a vida”, esta é sua única mensagem.
Segundo Calvino, citado por
Hermisten Maia, coração dos
homens com a alegria da vida presente, mas o eleva à esperança da imortalidade;
e não se importa com os prazeres terrenos, mas, demonstrando a esperança que
lhes está preparada no céu, transporta-os às alturas (MAIA 2006). Verdades do Evangelho
como esta foi paulatinamente sendo deixada de lado e substituída pela filosofia
do resultado.
Para Ray Confort, a
tragédia do evangelismo moderno é que, na virada do século XX, quando a lei de
Deus foi abandonada, e desprezada em sua capacidade de converter a alma, de
conduzir os pecadores a Cristo, os defensores do evangelismo moderno tiveram
que encontrar outra razão para os fiéis responderem ao Evangelho. E a maneira
que encontraram para atraí-los foi a estratégia da “melhoria na qualidade de
vida.” (CONFORT, 2005)
Apesar de não ver os frutos de suas inovações, FINNEY foi o criador do
moderno movimento de crescimento da Igreja. A este respeito, Michael Horton escreveu:
Quando
os líderes do Movimento de Crescimento de Igreja reivindicam que a teologia
impede o crescimento da igreja e insistem que, não importando o que determinada
igreja acredita em particular, o crescimento é uma questão de seguir os
princípios adequados, estes líderes estão demonstrando seu débito a Finney
[...] com base na idéia de que “isto funciona” e que devemos julgar a verdade
destas coisas pelos frutos produzidos, esses líderes estão seguindo idéias de
Finney e de William James, o pai do pragmatismo americano. Este último declarou
que uma verdade precisa ser julgada de acordo com “seu valor na prática”. (HORTON,
2005)
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