quarta-feira, 29 de outubro de 2014


O IMPACTO DO PRAGMATISMO FINNEYANO NAS MISSÕES

charles Finney é considerado o pai do avivamento moderno, responsável pelo fortalecimento do movimento pentecostal e do pragmatismo evangélico.

Em sua Teologia sistemática Franklin Ferreira e Alan Myatt consideram que o pragmatismo de FINNEY e a introdução de sua doutrina foram uma das razões do surgimento do movimento pentecostal e das inovações nas igrejas protestantes (FERREIRA; MYATT, 2007).

Segundo o Pastor Dinelcir de Souza Lima, o reavivalista norte-americano de grande influência, autor de uma Teologia sistemática de grande utilização entre os pentecostais estadunidenses, o primeiro a chamar a experiência ensinada por John Wesley de Santificação de “batismo no Espírito Santo” foi Charles Finney (LIMA, 2008).

HORTON enumera algumas das heranças do ministério finneyano; declara que as novas medidas de Charles Finney incluíam o banco dos ansiosos (precursor do atual apelo para vir à frente), táticas emocionais, que levavam as pessoas a sentirem-se desesperadas e chorarem, e outros “incentivos”, como ele e seus seguidores as chamavam. Os outros incentivos seriam o avivalismo, o perfeccionismo e o emocionalismo pentecostal, e as tendências anti-intelectuais e anti-doutrinárias do fundamentalismo e evangelicalismo moderno (HORTON, 1995).

O Professor Alvin L. Reid, citado por Rick Nelson atribuiu a FINNEY o ímpeto para a mudança do trabalho de Deus, ao trabalho dos homens no reavivamentos e no despertar espiritual. O convite público, os cultos de larga duração (agora chamados serviços de avivamento ou simplesmente avivamento) e a preparação de tais reuniões podem ser atribuídos, em grande medida, à sua técnica (NELSON, [s.d]).

Na obra Cristianismo pagão, Frank Viola enumera outras influências de Charles Finney:

 

Ele ensinava que o único propósito da pregação é ganhar almas[...] Finney elevou o “apelo ao altar” ao nível de uma obra de arte. Seu método consistia em pedir àqueles que queriam ser salvos para que se levantassem e fossem à frente. Finney tornou esse método tão popular que após 1835, chegou a ser um elemento indispensável no moderno revivamento [...] Sob Finney, o evangelismo do século XVIII se converteu em uma ciência e foi integrado à corrente principal das igrejas. Em todos os aspectos, o Evangelismo Fronteiriço Americano converteu a igreja em um ponto de pregação. Restringindo a experiência da ekklesia a uma missão evangelística. Isto normatizou os métodos revivalísticos de Finney e criou personalidades do púlpito como a atração dominante. A igreja passou a ser uma questão de preferência individual em vez de ser uma questão coletiva. Em outras palavras, a meta dos Evangelistas Fronteiriços era levar pecadores individualmente a uma decisão individual por uma fé individualista. Como resultado, a meta da Igreja Primitiva, a edificação mútua e o funcionamento de cada membro manifestando Jesus Cristo coletivamente diante dos principados e potestades, perderam-se completamente. Ironicamente, João Wesley, um dos primeiros revivalistas, compreendeu os perigos do movimento revivalista. Ele escreveu que “o cristianismo é essencialmente uma religião social [...] transformá-lo em uma religião solitária é certamente sua destruição”. (VIOLA, 2005)

 

Monte Wilson, citado por Rick Nelson, concluiu que as conseqüências das inovações de FINNEY para a Igreja de Cristo são a idéia de que os avivamentos poderiam ser planejados, promovidos e propagados pelo homem. Portanto, a tendência moderna de confiar em técnicas para a preparação das campanhas avivadas pode ser atribuída à aceitação das premissas de Charles Finney. (NELSON, [s.d]).

Todas estas inovações foram criadas pela sua não aceitação da doutrina hipercalvinista. FINNEY descentralizou a soberania de Deus e centralizou na responsabilidade do homem o agente moral livre. Seu trabalho acabou por consolidar assim o nascimento do pragmatismo religioso.

Assim descreveu MACARTHUR a ideologia pragmática finneyana:

 

O sucesso de qualquer medida destinada a promover um avivamento da religião demonstra a sabedoria... Quando a benção acompanha a introdução de certa medida, é irrefutável a prova de que certa medida é sábia. É profano afirmar que esta medida causará mais prejuízo do que bem. Deus sabe disso. O seu objetivo é fazer a maior quantidade possível de bem. (MACHARTHUR, 2004)

 

FINNEY se preocupava e se interessava pelos resultados e pelo sucesso de suas pregações. Segundo ele, uma resposta positiva, seja na conversão, no avivamento, no evangelismo ou no batismo com o Espírito Santo, prova que aquela medida foi sábia e que deu resultados.

Na obra intitulada Com vergonha do evangelho MACARTHUR, descreve o movimento de crescimento da Igreja. Ele percebeu que a base desse movimento e sua filosofia de ministério não se encontravam nas escrituras, mas sim na filosofia norteada pelo marketing religioso; não era ela extraída das palavras de Paulo, mas das teorias de gerenciamento, dos empreendimentos modernos e da Psicologia (MACARTHUR, 2004)

Estas teorias foram implantadas por Donald MacGravan, em 1930. Após anos de esforço e muito trabalho no campo missionário, ele percebeu que as agências tinham que desenvolver estratégias para missões, que observasse quais métodos produziam resultados e quais não funcionavam. Portanto o movimento de crescimento da Igreja é um fenômeno recente, fruto direto de uma ideologia pragmática (MACARTHUR, 2004).

Assim MACARTHUR descreve o movimento:

 

Criamos métodos e políticas missionárias à luz do que deus abençoou e à luz daquilo que Ele, obviamente não abençoou. A indústria chama isso de modificar operações à luz da realimentação. Nada atrapalha tanto missões transculturais quanto aos métodos, instituições e políticas que deveriam multiplicar as igrejas, mas não o fazem. Ensinamos os homens a serem implacáveis em relação ao método. Se um método não contribui para a glória de Deus e para a expansão da igreja de Cristo, jogue-o fora e arranje algo que faça. Quanto aos métodos, somos ousadamente pragmáticos: a doutrina é algo diferente. (MACARTHUR, 2004)

 

Na verdade as palavras de Donald MacGravan são ecos das palavras de Charles Finney com uma nova roupagem. O Pragmatismo tornou-se a base filosófica para quase tudo que MACGRAVAN ensinou, e a agenda de todo o movimento moderno de crescimento da Igreja.

 

Entretanto, um irresistível surto de pragmatismo está permeando o evangelicalismo. A metodologia tradicional, especialmente a pregação, estão sendo descartada e menosprezada em favor de novos métodos, tais como dramatização, dança comédia, variedades, grandiosas atrações, concertos populares e outras formas de entretenimento. Esses novos métodos são, supostamente, mais eficazes, ou seja, atraem grandes multidões. E, visto que, para muitos, a quantidade de pessoas nos cultos tornou-se o principal critério para se avaliar o sucesso de uma igreja, aquilo que mais atrair o público é aceito como bom, sem uma análise crítica. Isso é pragmatismo. (MACARTHUR, 2004)

 

A grave conseqüência foi à modificação da Igreja que deixou de ser vista como o Corpo de Cristo, um organismo vivo, e passou a ser encarada como uma empresa, um clube fechado, onde as pessoas se tornaram os clientes e o evangelho se tornou o produto a ser vendido.

Segundo a metodologia do marketing, o produto não pode ser ofensivo à clientela. Tudo é direcionado para agradar o homem; quanto mais confortável se sentir o fiel, mais a Igreja crescerá. De acordo com MACARTHUR, o objetivo de todo marketing é deixar o produtor e o consumidor satisfeitos; então tudo o que tende a deixar o consumidor insatisfeito precisa ser descartado (MACARTHUR, 2004).

A pregação sobre o inferno, o pecado, o arrependimento, a cruz, o juízo e as demais doutrinas cristãs ficaram de fora da pauta de fortalecimento da Igreja.

Toda a questão está direcionada para o resultado. Se qualquer metodologia introduzida na Igreja é eficaz em produzir o efeito desejado, isto prova que ela tem que ser aplicada. Para HORTON, o pragmatismo é uma filosofia que empurra para a periferia uma série de princípios fundamentais e elege, como único fator relevante, a questão: “Isso funciona?”.

 

Muitos dos movimentos que se intitulam “avivados”, em nossos dias, simplesmente estão reavivando o narcisismo, ou seja: a adoração do “eu”. Isso pode ser visto na declaração de um desses pastores que afirmou: “A Reforma errou porque foi centralizada em Deus e não no homem, como devia ser” [...] O que está acontecendo é que a piedade e a santidade deixaram de ser os referenciais pelos quais julgamos se um movimento é ou não é do Espírito. Assim, o critério que tem sido adotado é: “Funciona? Vai me fazer feliz? Vai me ajudar a criar minha família? Vai consertar o meu casamento?”. Todas essas questões são importantes, à luz das Escrituras, mas não são as mais importantes. (HORTON, 1997)

 

O problema do pragmatismo religioso é a exclusão de temas como a adoção, a regeneração, a justificação, a santificação e a degradação do ser humano. “Pregue a vida”, esta é sua única mensagem.

Segundo Calvino, citado por Hermisten Maia, coração dos homens com a alegria da vida presente, mas o eleva à esperança da imortalidade; e não se importa com os prazeres terrenos, mas, demonstrando a esperança que lhes está preparada no céu, transporta-os às alturas (MAIA 2006). Verdades do Evangelho como esta foi paulatinamente sendo deixada de lado e substituída pela filosofia do resultado.

Para Ray Confort, a tragédia do evangelismo moderno é que, na virada do século XX, quando a lei de Deus foi abandonada, e desprezada em sua capacidade de converter a alma, de conduzir os pecadores a Cristo, os defensores do evangelismo moderno tiveram que encontrar outra razão para os fiéis responderem ao Evangelho. E a maneira que encontraram para atraí-los foi a estratégia da “melhoria na qualidade de vida.” (CONFORT, 2005)

Apesar de não ver os frutos de suas inovações, FINNEY foi o criador do moderno movimento de crescimento da Igreja. A este respeito, Michael Horton escreveu:

Quando os líderes do Movimento de Crescimento de Igreja reivindicam que a teologia impede o crescimento da igreja e insistem que, não importando o que determinada igreja acredita em particular, o crescimento é uma questão de seguir os princípios adequados, estes líderes estão demonstrando seu débito a Finney [...] com base na idéia de que “isto funciona” e que devemos julgar a verdade destas coisas pelos frutos produzidos, esses líderes estão seguindo idéias de Finney e de William James, o pai do pragmatismo americano. Este último declarou que uma verdade precisa ser julgada de acordo com “seu valor na prática”. (HORTON, 2005)

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