o perfeccionismo finneyano
Ao rejeitar as doutrinas do Calvinismo clássico, Charles Finney criou uma
nova doutrina, que se adequava à lógica e ao raciocínio moldados segundo o
pensamento jurídico.
Abandonando a doutrina da Justificação, tanto calvinista quanto
arminianista, crendo que a Santificação é a condição para a Justificação, FINNEY
desenvolveu a idéia de que a perfeição moral do pecador é a base para ser
aceito por Deus. O pecador seria justificado se vivesse uma vida de perfeita
obediência. Quanto ao perfeccionismo, FINNEY ultrapassou João Wesley, pois,
segundo Horton, a diferença entre a doutrina da perfeição de Wesley e Finney se
baseia no ponto que a perfeição cristã era questão de coração e não de ações.(HORTON,
1995)
Concluiu que a Justificação só seria realidade na vida do homem quando
chegasse a uma Santificação completa, isto é, à perfeição absoluta. Novamente o
doutrinador não inovava, mas apoiava-se no Pelagianismo. Segundo Franklin Ferreira
e Alan Myatt, ao negar os efeitos da queda na natureza do ser humano, Pelágio
ensinava que era possível, por meio do livre arbítrio e da autodeterminação,
vencer o pecado e viver uma vida sem pecado. (FERREIRA; MYATT, 2007).
Em sua teologia sistemática FINNEY escreveu:
Sendo a
santificação uma condição da justificação, as seguintes coisas são pretendidas:
(1.) Que a presente, total e inteira consagração do coração e vida a Deus e Seu
serviço, é uma inalterável condição do presente perdão dos pecados passados, e
da presente aceitação de Deus. (2.) Que a alma penitente permanece justificada
enquanto esta total consagração do coração perdurar. Se cair de seu primeiro
amor no espírito de auto-satisfação, ela cai novamente na escravidão do pecado
e da lei, é condenada, e deve arrepender-se e fazer sua primeira obra, deve
voltar a Cristo, e renovar sua fé e amor, como uma condição de sua salvação
[...] Perseverança em fé e obediência, ou em consagração a Deus, é também uma
inalterável condição de justificação, ou de perdão e aceitação por Deus. Por
esta linguagem nesta conexão, você naturalmente entenderá o que eu digo, que a
perseverança em fé e obediência é a condição, não da presente, mas da final ou
derradeira aceitação e salvação. (FINNEY, 2004).
De acordo com Michael Horton, os reformadores protestantes insistiam, com
base em evidentes textos bíblicos, que a Justificação (do grego, “declarar justo”)
era um veredicto forense, isto é, “judicial” (HORTON, 1995).
Segundo os preceitos bíblicos, a Justificação não torna uma pessoa
essencialmente justa; Deus a declara justa diante da sua culpa, por causa da
justiça de Cristo, e esta Justificação ocorre de uma só vez e para sempre, e
nunca se repetirá.
Se o catolicismo romano sustentava que a Justificação era um processo
para tornar melhor uma pessoa má, os reformadores argumentavam que a Justificação
era um pronunciamento ou uma declaração de que alguém possuía a retidão de
outra pessoa (Cristo). Portanto, a Justificação era um veredicto perfeito,
outorgado, declarando que alguém permanecia íntegro desde o início da vida
cristã, e não em qualquer outra etapa desta (HORTON, 1995).
HORTON fez uma distinção entre a doutrina da perfeição de Wesley e de Finney.
Assim escreveu:
Finney
ultrapassou Wesley ao argumentar em favor da possibilidade da santificação
completa nesta vida. John Wesley dizia que é possível para o crente atingir a
plena santificação, mas, quando reconheceu que o melhor dos crentes peca, ele
acomodou-se à realidade dos fatos, afirmando que a experiência da “perfeição
cristã” era uma questão de coração e não de ações. Em outras palavras, um
crente pode ser aperfeiçoado em amor, de modo que este amor se torne a única
motivação para as suas atitudes, enquanto ocasionalmente comete erros. Finney
rejeitou esta opinião e insistiu que a justificação está condicionada à
perfeição completa e total – ou seja, a “inteira conformidade à lei de Deus”, e
o crente pode fazer isso; mas, quando ele transgride em algum ponto, uma nova
justificação é exigida. (HORTON, 1995)
Charles Finney
não acreditava que o Espírito Santo era o soberano na regeneração do homem e na
sua Santificação. Tudo estava focado no livre arbítrio e na capacidade do próprio
homem. Segundo ele, se quiser o homem, pode o homem ser aceito e salvo por Deus.
Portanto, como afirma HORTON, todo o território em que com mais freqüência se
realizavam os avivamentos de FINNEY era também o berço dos cultos
perfeccionistas que proliferaram naquele século.
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