quarta-feira, 29 de outubro de 2014


o perfeccionismo finneyano


Ao rejeitar as doutrinas do Calvinismo clássico, Charles Finney criou uma nova doutrina, que se adequava à lógica e ao raciocínio moldados segundo o pensamento jurídico.

Abandonando a doutrina da Justificação, tanto calvinista quanto arminianista, crendo que a Santificação é a condição para a Justificação, FINNEY desenvolveu a idéia de que a perfeição moral do pecador é a base para ser aceito por Deus. O pecador seria justificado se vivesse uma vida de perfeita obediência. Quanto ao perfeccionismo, FINNEY ultrapassou João Wesley, pois, segundo Horton, a diferença entre a doutrina da perfeição de Wesley e Finney se baseia no ponto que a perfeição cristã era questão de coração e não de ações.(HORTON, 1995)

Concluiu que a Justificação só seria realidade na vida do homem quando chegasse a uma Santificação completa, isto é, à perfeição absoluta. Novamente o doutrinador não inovava, mas apoiava-se no Pelagianismo. Segundo Franklin Ferreira e Alan Myatt, ao negar os efeitos da queda na natureza do ser humano, Pelágio ensinava que era possível, por meio do livre arbítrio e da autodeterminação, vencer o pecado e viver uma vida sem pecado. (FERREIRA; MYATT, 2007).

Em sua teologia sistemática FINNEY escreveu:

 

Sendo a santificação uma condição da justificação, as seguintes coisas são pretendidas: (1.) Que a presente, total e inteira consagração do coração e vida a Deus e Seu serviço, é uma inalterável condição do presente perdão dos pecados passados, e da presente aceitação de Deus. (2.) Que a alma penitente permanece justificada enquanto esta total consagração do coração perdurar. Se cair de seu primeiro amor no espírito de auto-satisfação, ela cai novamente na escravidão do pecado e da lei, é condenada, e deve arrepender-se e fazer sua primeira obra, deve voltar a Cristo, e renovar sua fé e amor, como uma condição de sua salvação [...] Perseverança em fé e obediência, ou em consagração a Deus, é também uma inalterável condição de justificação, ou de perdão e aceitação por Deus. Por esta linguagem nesta conexão, você naturalmente entenderá o que eu digo, que a perseverança em fé e obediência é a condição, não da presente, mas da final ou derradeira aceitação e salvação. (FINNEY, 2004).

 

De acordo com Michael Horton, os reformadores protestantes insistiam, com base em evidentes textos bíblicos, que a Justificação (do grego, “declarar justo”) era um veredicto forense, isto é, “judicial” (HORTON, 1995).

Segundo os preceitos bíblicos, a Justificação não torna uma pessoa essencialmente justa; Deus a declara justa diante da sua culpa, por causa da justiça de Cristo, e esta Justificação ocorre de uma só vez e para sempre, e nunca se repetirá.

Se o catolicismo romano sustentava que a Justificação era um processo para tornar melhor uma pessoa má, os reformadores argumentavam que a Justificação era um pronunciamento ou uma declaração de que alguém possuía a retidão de outra pessoa (Cristo). Portanto, a Justificação era um veredicto perfeito, outorgado, declarando que alguém permanecia íntegro desde o início da vida cristã, e não em qualquer outra etapa desta (HORTON, 1995).

HORTON fez uma distinção entre a doutrina da perfeição de Wesley e de Finney. Assim escreveu:

 

Finney ultrapassou Wesley ao argumentar em favor da possibilidade da santificação completa nesta vida. John Wesley dizia que é possível para o crente atingir a plena santificação, mas, quando reconheceu que o melhor dos crentes peca, ele acomodou-se à realidade dos fatos, afirmando que a experiência da “perfeição cristã” era uma questão de coração e não de ações. Em outras palavras, um crente pode ser aperfeiçoado em amor, de modo que este amor se torne a única motivação para as suas atitudes, enquanto ocasionalmente comete erros. Finney rejeitou esta opinião e insistiu que a justificação está condicionada à perfeição completa e total – ou seja, a “inteira conformidade à lei de Deus”, e o crente pode fazer isso; mas, quando ele transgride em algum ponto, uma nova justificação é exigida. (HORTON, 1995)

 

Charles Finney não acreditava que o Espírito Santo era o soberano na regeneração do homem e na sua Santificação. Tudo estava focado no livre arbítrio e na capacidade do próprio homem. Segundo ele, se quiser o homem, pode o homem ser aceito e salvo por Deus. Portanto, como afirma HORTON, todo o território em que com mais freqüência se realizavam os avivamentos de FINNEY era também o berço dos cultos perfeccionistas que proliferaram naquele século.

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