SOLA CRISTO

Os ditados populares e Cristo, uma relação de conflito

Muitos não consideram Cristo como o salvador do mundo, ou o restaurador e remidor dessa natureza caída.  Afirmar que Ele é Deus então, nem passa por suas cabeças. O que é muito propagado entre esse tipo de pessoas é que o nosso Senhor não passa de exemplo moral a ser seguido. Aquilo que ele fez e falou deve ser copiado e observado por todos, pois a sua intenção real, dizem eles, era mudar o mundo pelo amor.

É uma contradição crer no que ele fez e falou, sendo que o que ele fez e falou dão provas suficientes de que ele é Deus encarnado. Como disse certa vez C.S Lewis, ou você crê que ele é um louco por dizer o que ele disse a respeito de si mesmo, ou crê que ele é o Filho de Deus, isto é, o próprio Deus.

Mas deixando esse assunto um pouco de lado, focaremos as palavras de Jesus que não tratam de sua natureza, mas de sua moralidade. Já que esses não crêem que ele é Deus, pelo menos crêem que suas palavras servem para alguma coisa, visto que ele é um exemplo a ser seguido.

É nesse ponto que entra o problema. Diante da realidade na vida daqueles que vêem o Senhor como exemplo ético, chega-se a conclusão que isso é apenas mais uma balela. Eles não reconhecem a Jesus como Deus e muito menos seguem suas palavras e seu exemplo. Falar sem fazer o que ele disse é fácil, mas fazer o que ele disse se torna extremamente difícil. Pegamos o caso dos ditados populares. Esses ditos comuns em todo o mundo é o conhecimento experiencial do povão, que, colocado em prática se tornou a sabedoria popular. Muitas dessas sabedorias são realmente válidas para o nosso contexto, principalmente quando nos faz evitar, se seguido, grandes complicações para nossa vida. Na maioria das vezes quem os criou teve uma experiência amarga e quer evitar que nós a tenhamos. Vejamos alguns exemplos:

Cada qual canta como lhe ajuda a garganta.
A cavalo dado não se olham os dentes.
Cobra que não anda não apanha sapo.
 Cada louco com sua mania.
A corda sempre arrebenta pelo lado mais fraco.
É melhor não soltar rojão antes do tempo.
Roupa suja lava-se em casa.
De médico, poeta e louco, todo mundo tem um pouco.
Quem quer a rosa, agüente o espinho.
Mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro.
Não há bem que sempre dure, nem mal que sempre se ature.
Quando a barriga está cheia, toda goiaba tem bicho.
Ladrão de tostão, ladrão de milhão.

E essa situação não era diferente nos tempos de Jesus. Ele se deparou com esse problema em seus dias. Porém, para piorar a situação, esses ditados populares propagados pelos escribas era uma distorção da lei de Deus. O nível da dificuldade era muito maior. Diante disso ele dizia aos seus ouvintes: vocês ouviram o que foi dito? Eles estavam familiarizados com os ditados populares dos escribas e fariseus e entenderam rapidamente o que nosso senhor queria com aquela pergunta. Aqueles ditados em Mateus 5 eram interpretações equivocadas da vontade de Deus para o homem. O Senhor lutou firmemente contra esses ditados que eram perniciosos para o seu povo. Ele não flertou com a mentira disfarçada de verdade. A mentira embelezada por palavras ainda é mentira.

 E como naquele tempo, muitos ditados de hoje são interpretações equivocadas da vontade de Deus e daquilo que Jesus intencionou para o mundo. Eles se baseiam no egoísmo, o real problema do pecado humano. Quando a alma é ferida, clama para ser reivindicada pela justiça própria. É a defesa da alma ferida que não quer ser humilhada que faz surgir ditados sem nenhum senso de certo e errado baseado em Cristo.  Dessa forma as palavras de Jesus são esquecidas rapidamente, e assim, ele deixa de ser seu exemplo moral. Todos os ditados populares que destoam das escrituras têm no seu âmago o orgulho. É a tentativa do homem pecador se desvencilhar da cruz. Cruz? Ninguém falou de Cruz? Diriam os discípulos do exemplo. Porém, a bíblia fala do caminho do cordeiro. Caminho nos fala de exemplo a ser seguido. O caminho de Jesus é o caminho do matadouro. Essas palavras são forte para a alma que ama a si mesma.

Amigos, amigos, negócios a parte - Você acha que Jesus diria isso para os seus discípulos? Na verdade, parece que foi isso que cada um deles disse para o Senhor no Getsemâni quando o abandonaram.

Um dia é da caça outro é do caçador - Sabemos muito bem o que está por detrás dessas palavras. Imagine Jesus virando para aqueles que o crucificaram e que zombavam dele na cruz dizendo um dia é da caça outro é do caçador. O que nosso Senhor disse naquela cruz para os que o faziam mal é bem diferente desse dito.

 Santo de casa não faz milagre - Foi o que aconteceu com o ministério de nosso Senhor em sua própria terra. Em outras palavras, o profeta não tem honra entre os seus. Esse ditado se torna pior quando é repassado para a igreja onde os profetas, mestres, professores e pastores da própria localidade não se têm o respeito que eles merecem. Na verdade eram para serem mais honrados por terem nascido do ministério dos primeiros que vieram antes. É um ditado pernicioso que entristeceu o nosso Senhor, entristece a muitos hoje e é considerada uma grande verdade em nosso meio.

A vingança é um prato que se come frio - Lembra-se de algumas palavras da bíblia? Deixe-me refrescar sua memória: olho por olho dente por dente. Jesus simplesmente nos diz para não resistirmos os que nos fazem mal. Dê a sua honra aqueles que lhe ferem a face, diria o Mestre diante dessas palavras.

Se conselho fosse bom não daria, vendia - A bíblia é um livro de conselhos com conseqüências eternas. Os conselhos de Salomão, o pregador está disponível aos jovens para segui-los e por eles viverem. O que dizer das palavras do próprio Senhor que são carregadas de conselhos para os seus? E os dizeres de Paulo, Pedro, Tiago, Judas? O nosso Deus é conhecido como o maravilho conselheiro, algo que é de primordial valor para toda a humanidade.

Tempo é dinheiro - Esse ditado nascido no quartel general de Satanás tem sido eficaz em destruir toda uma sociedade. Se tempo é dinheiro, o que o dinheiro se tornou para esses que vivem trabalhando? Se a sua vida é trabalhar para ter dinheiro, que tempo sobra pra Deus? E a família? E a comunhão na igreja? E seu ministério? Se não sobra tempo nem para o entretenimento, sobrará para ter comunhão com Jesus?

Esses são apenas alguns exemplos de ditados seguidos por muitos até dentro das igrejas.  

A cruz humilha toda a pretensão humana de viver uma vida baseada em seu senso de moralidade. A crença nesses ditados é a tentativa da alma orgulhosa que rejeita a humilhação tentando se defender a qualquer custo. A cruz é deixada de lado pra que a alma se apegue aos seus desejos mais escusos. Vingança, fortuna, desprezo, arrogância, traição são algumas virtudes, se podemos chamar essas coisas de virtude, que esses tipos de ditados produzem nessas pessoas.

Viver o exemplo moral de nosso Senhor é viver o caminho da cruz. É a nossa alma sendo mortificado dia após dia para que Cristo seja revelado em nossas vidas. A cruz trabalha o nosso caráter, eleva a visão que temos do próximo, nos encoraja a desafiar nossos soberanos desejos, e nos ajuda a sermos melhores a cada dia. Tudo isso a um preço muito alto.

Se quisermos somente olhar esse lado de exemplo moral de Jesus e viver por ele é louvável. Mas cedo ou tarde essa alma iludida chegará à conclusão que é impossível se tornar como Cristo sem que algo o impulsione a isso. Se não houver um poder, uma força, uma energia agindo em seus membros e sentidos, nada poderá ser mudado para eternidade, apenas haverá um desejo reprimido por suas próprias forças que culminará em algo pior.

É o espírito Santo que nos capacita a vivermos a vida que Cristo viveu. É ele quem opera em nós tanto o querer ser como o Mestre, como o realizar esse querer de ser como o Mestre. Mas só há um problema. Para se ter esse ser poderoso agindo dentro de nós é preciso olhar para Jesus além do exemplo moral e ético. É preciso reconhecê-lo como Senhor e Salvador. Somente assim teremos força verdadeira para vivermos os ditados que se baseiam nas palavras de Cristo e rejeitarmos todos os demais que são clamores de uma alma ferida.

Soli Deo Gloria

Silas Carvalho