sexta-feira, 6 de março de 2015

Igreja (im)perfeita

A sua igreja é perfeita? Ela é a expressão exata da vontade de Deus na terra? Creio que muitos responderiam com um sonoro sim! E continuariam: em nosso meio há manifestação de dons, curas, salvação, milagres, um louvor fervoroso, ministérios dinâmicos, o que mais é preciso? Mas se eu te disser que a sua igreja não é perfeita, você acreditaria?

Nunca existiu igreja perfeita nesse mundo. No próprio contexto dos apóstolos havia sérios problemas. Muitos dizem que deveríamos voltar ao padrão da igreja primitiva, pensando ser esta perfeita e sem nenhuma dificuldade. Mas não é isso que vemos quando abrimos a bíblia. São tantas confusões que no próprio livro de Atos podemos enxergar falhas na primeira comunidade.


Mas uma igreja, que por incrível que pareça é a cara da igreja brasileira, está no topo da lista das mais problemáticas. Eis que a campeã é a igreja na cidade de Corinto. Ela foi fundada por Paulo em uma de suas viagens, e ele como pregador itinerante nem sempre estava presente para ensiná-la e corrigi-la, como um pai faz com seu filho. E por causa disso, talvez alguém possa argumentar que essa era a causa principal da falha no caráter daqueles irmãos.  Sim, é verdade. Eu também concordo que se o apóstolo Paulo estivesse sempre presente com os irmãos em Corinto a situação seria outra. Mas o que dizer da igreja em Jerusalém? Muitos apóstolos estavam presentes quando uma confusão foi armada no capítulo 6 de Atos. Pedro e Tiago estavam lá quando houve a controvérsia das viúvas de origem grega. E na questão de Ananias e Safira? Eles morreram fulminados diante de Pedro. Você acha isso perfeita?

Então, quando se diz que igreja perfeita só no céu, isso é a pura verdade. A igreja militante é muito defeituosa, tem muitos problemas, e há muito que crescer. Mas a igreja triunfante brilha nos céus com a glória do senhor Jesus. A igreja que vemos ainda é falha, mas a igreja que não podemos ver é perfeita.

O que temos hoje espalhada por este mundo é uma igreja que mais se aproxima da perfeição, e a que menos se aproxima da perfeição. E como identificar esses dois tipos de igreja? Calvino conseguiu ver uma igreja mais perfeita por esses sinais:

Onde quer que vejamos a palavra de Deus, tanto sendo pregada com pureza e sendo ouvida, e os sacramentos sendo ministrados conforme a ordem de Cristo, não podemos duvidar de que a igreja exista.

Mas no contexto de Corinto, a igreja mais perfeita, segundo o concílio de Constantinopla, é uma igreja UNA. O que aqueles irmãos do passado queriam dizer é que uma igreja verdadeira é distinguida por sua unidade. E a igreja de Corinto, e também a nossa, está muito longe dessa verdade. São perguntas simples que devem ser feitas para responder as primeiras questões acima:

Na sua igreja o evangelho é pregado em sua inteireza e pureza? O povo acolhe a verdade pregada e aplica com temor e reverencia a sua vida? O batismo e a Ceia são ministrados de acordo com o ensino de nosso Senhor? A sua igreja está realmente unida, consigo mesma e com as outras?
Se suas respostas foram sim, então sua igreja se parece mais com Cristo. Mas se forem não, e eu creio que a grande maioria com sinceridade responderia dessa forma, então ela não se parece muito com o Senhor.

Sabe por que a igreja nunca conseguirá ser perfeita nessa terra? Por sua causa! Também pela minha, aliás, por causa daqueles que estão dentro dela. A causa da fraqueza da igreja são as pessoas que nelas estão. Onde há homens e mulheres há problemas. Talvez se a igreja fosse destituída de pessoas ela seria perfeita. Mas como isso não é possível, ela continua batalhando para se parecer com seu mestre. Há tantas pessoas feridas, tradicionalistas, fanáticas, extremistas, cheias de rancor, super espirituais, não convertidas, com gênios fortes, indisciplinadas, carnais, e por aí vai.

Onde há pessoas há problemas.

E todas as igrejas são constituídas de pessoas. E onde há pessoas automaticamente há grupos. Eles se identificam, tem uma amizade mais forte, se parecem umas com as outras. Isso é algo até normal, mas esse fato não pode nos levar ao cisma, e muito menos a divisão. A igreja é uma unidade na diversidade, e é isso que faz com que ela seja tão empolgante e impressionante. Nossas personalidades, nossos gostos, pressupostos, cosmovisões, maneiras diferentes de ver as coisas, de até entender a bíblia, não devem ser motivo para nos separar. Antes, o amor é muito mais forte. Melanchton disse uma vez:

Nas coisas essenciais, unidade. Nas não essenciais, diversidade. Em todas as coisas, caridade.

Por isso a igreja se diferencia tanto do socialismo ou comunismo. Nesses sistemas, o estado impõe suas leis tentando unir o povo debaixo do terror, sem liberdade ou diversidade. A igreja não pode ser uma unidade forçada, tem que ser espontânea, livre, guiada pelo Espírito. Mas como temos visto um dos maiores problemas que nos afasta da perfeição é a divisão, e divisão por vaidades. Esse fato arranca a autoridade da igreja, anula o testemunho e escandaliza o evangelho, porque muitas das vezes a divisão é por coisas banais, como:

Formas de culto: se deve ser com hinos de cantor cristão ou cânticos contemporâneos. Se deve ser formal ou informal. Se devem bater palmas ou não.

Insubordinação de lideres: muitos interesses pessoais envolvidos, busca por poder, por reconhecimento, por dinheiro.

E nesta questão dificilmente uma divisão é provocada por uma ovelha, mas quase sempre são os lideres que deflagram a separação. E quando isso acontece, a conseqüência espiritual é desastrosa.  A história dessas comunidades será afetada profundamente, podendo até sua identidade ser mudada.

E infelizmente nós estamos muito longe das motivações da divisão de Lutero na reforma. Na verdade esse grande homem nem queria se dividir da Igreja católica, mas sua intenção era reformar uma igreja corrupta em suas doutrinas e condutas.
Creio que Lutero trouxe uma divisão por permissão de Deus. Hoje, os descendentes desse homem a dividem para tristeza do mesmo.

Com Lutero foi por necessidade, hoje é por pura vaidade.



Soli Deo Gloria

SPC




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