O PECADO ORIGINAL
Dentre as idéias que abandonou, Charles Finney rejeitou a doutrina da
natureza pecaminosa herdada de Adão, por achar que Deus não seria justo ao
culpar e condenar pessoas que pecassem por terem uma natureza herdada
injustamente. As suas palavras eram ecos de um ensino há muito pregado por
Pelágio e repelido por Agostinho. Segundo Pelágio:
Adão foi criado mortal e teria morrido, quer tivesse
pecado, quer não; o pecado de Adão contaminou só a ele mesmo e não a raça
humana; as crianças recém-nascidas estão naquele estado em que estava Adão
antes da queda; toda a raça humana não morre por causa da morte de Adão, nem
ressuscita pela ressurreição de Cristo; a lei, tanto quanto o evangelho,
conduzem ao reino dos céus; mesmo antes da vinda de Cristo houvera homens sem
pecado. (FERREIRA; MYATT, 2007)
Com sua doutrina a favor da razão humana e em detrimento das escrituras, FINNEY
trouxe à tona a mesma teologia rejeitada pelo Concílio de Cartago, em 418 d.C.,
pelo Concílio de Éfeso, em 430 d.C., e pelo Concílio de Orange em 529 d.C.
FINNEY afirmava que o pecado consistia na escolha de se quebrar a lei
moral (FINNEY, 2004) A conclusão é a de que o homem não nasce pecador, mas se torna
pecador quando transgride a lei moral. Este raciocínio confronta com o ensino
das escrituras em Romanos 5.18-19:
Portanto, assim como um só pecado condenou todos os
seres humanos, assim também um só ato de salvação liberta todos e lhes dá vida.
E assim como muitos seres humanos se tornaram pecadores por causa da
desobediência de um só homem, assim também muitos serão aceitos por Deus por
causa da obediência de um só homem. (NTLH, 2000)
Comentando a passagem, Wayne Grudem afirma que, quando Adão pecou, todos
que em Adão estavam pecaram por ser ele o representante de toda a humanidade.
Mesmo que não existíssemos fisicamente, Deus imputou a todos os homens a mesma conseqüência
que sofreu Adão. (GRUDEN, 1999). Portanto o homem herda de Adão, seu pai, a natureza
caída, filho da ira por nascimento e não por uma decisão posterior ou qualquer
obra feita por ele contra Deus. O ser pecador estava na essência e não na
conseqüência de seus atos pecaminosos.
Mas FINNEY ensinava que o homem não era herdeiro da natureza pecaminosa
de Adão, e que não tinha apenas a habilidade natural de fazer escolhas, mas
também a habilidade de fazer escolhas apropriadas, isto é, o homem detinha o
poder de decidir se aceitava ou rejeitava a salvação, baseado somente em sua
conduta. Justificava-se afirmando que Deus não imputaria os pecados das pessoas
a Cristo e a justiça de Cristo aos que crêem, e denominou essa doutrina bíblica
de ficção teológica (MACHARTHUR JR, 2004).
Se, por um lado, Finney admitiu que o pecado de Adão tivesse
influência negativa sobre aqueles que nasceram após ele, negou que esta
influência tenha sido a de uma natureza pecaminosa herdada. Ele rejeitou a
doutrina do pecado original, afirmando que essa era “um dogma sem lógica e
fundamento bíblico”, e ao negar a idéia de que os homens possuem uma natureza
pecaminosa, ele acreditava que por meio de uma pregação persuasiva os homens
seriam capazes de escolher se desejavam ser corruptos por natureza ou
redimidos. (FERREIRA; MYATT, 2007).
FINNEY desconsiderava totalmente o trabalho do Espírito Santo, na
conversão do pecador, e chegou à conclusão de que se fosse persuasivo e
colocasse todos os meios disponíveis para atingir o convencimento, os homens
escolheriam, através da razão e da lógica, qual seria a decisão certa a tomar,
isto é, se desejariam ser corruptos por natureza ou redimidos. A única coisa
que impediria o pecador de escolher o caminho de Cristo era a sua vontade e seu
livre arbítrio.
Segundo Rick Nelson, cada método utilizado por FINNEY foi avaliado na
base de sua eficácia em "romper" a vontade obstinada dos pecadores (NELSON,
[s.d).
Em Um lobo em pele de ovelha (Johnson, 1998) afirma que Charles Finney insistia na afirmação de
que todos os homens e mulheres têm uma capacidade natural para obedecer a Deus.
Para ele, os pecados resultam de escolhas erradas, não de uma natureza herdada.
Portanto, os pecadores podem livremente reformar seus próprios corações, e eles
próprios assim o farão, se são realmente futuros redimidos. No fim, tudo
dependeria do pregador usar as técnicas adequadas, com o objetivo de alcançar
seu propósito.
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