A TEOLOGIA PRAGMÁTICA DE CHARLES FINNEY
Charles Finney nasceu em 29 de agosto de 1792, em Warren, Litchfield
Count, Connecticut, mas viveu grande parte de sua infância no condado de
Oneida, no Estado de Nova York. Não foi criado segundo os princípios cristãos, pois
seus pais não conheciam o Evangelho e nem professavam outras religiões, e
FINNEY cresceu sem qualquer conhecimento da doutrina cristã.
Não tinha Charles nenhuma recordação de qualquer pregação ou testemunho
do Evangelho, em sua infância, na comunidade onde cresceu algo que era coisa
rara e incomum daquele século; mas sempre havia aqueles que se atreviam a
pregar. Os pregadores eram homens simples, tidos como ignorantes e objetos de
piadas pela população da sua pequena cidade.
A religião de que FINNEY se lembrava era uma religião que não lhe chamava
a atenção. Em sua biografia, ele descreveu um pregador de quem recordava em sua
juventude:
Para dar uma ligeira idéia da suas pregações,
permitam-me dizer que os seus sermões manuscritos dariam apenas para meter numa
pequena Bíblia. Assentava-me na galeria e dali observava que ele punha sempre
os seus manuscritos no meio da Bíblia, pondo seus dedos espalhados pelos muitos
sítios onde teria de ir buscar muitos dos textos que ele necessitava na sua
pregação. Por essa razão, necessitava de suas duas mãos para segurar a sua
Bíblia, coisa que não lhe permitiam fazer qualquer uso de gesticulação
requerida para o efeito. Conforme ia avançando, ia libertando os seus dedos um
a um na medida em que ia lendo os devidos textos que teria para fazer uso.
Assim que todos os seus dedos estivessem soltos e livres, o sermão terminava. A
leitura que fazia dos seus sermões, nada tinha de convincente, apenas de
simples monotonia. Mesmo que as pessoas atendessem aos muitos cultos, fiel e
reverentemente, confesso que para mim nunca serviram para nada. (FINNEY, 1980)
É possível perceber que, desde a juventude de FINNEY, o pragmatismo
rondava-lhe a percepção do mundo. A mensagem que ele ouviu do pastor foi recebida
como um insípido discurso de doutrina, fazendo com que concluísse que qualquer
um poderia julgar que aquele tipo de pregação não faria efeito ou não traria interesse
a um jovem como ele que não conhecia e nem se importava com a religião.
Portanto, algo para FINNEY estava errado nas pregações que ouvira na época e
era preciso uma reformulação, uma nova metodologia para pregação do Evangelho,
uma metodologia que tivesse efeitos práticos.
Em sua juventude, resolveu estudar Direito e buscou conhecimento em
Adams, Nova York; foi lá que Charles se envolveu ativamente em uma igreja
local. Tratava-se de uma igreja presbiteriana, e seu pastor, interessando-se
por suas idéias, o visitava em seu escritório para conversar sobre matérias
espirituais.
O jovem estudante pesquisava direito elementar e as referências bíblicas
em seus livros começaram a lhe chamar a atenção. Foi este fato que despertou
uma grande curiosidade de estudar a Bíblia. O estudo das escrituras e as
pregações de George W. Gale, seu pastor, levou FINNEY a novamente concluir que
as mensagens não traziam a edificação.
Nesta altura de sua vida, Charles Finney já demonstrava certo repúdio
pelo Calvinismo, base doutrinária da igreja presbiteriana, e em suas conversas
com o jovem pastor Gale, Charles o interrogava e pressionava com perguntas a
respeito das questões centrais de sua doutrina. O alvo principal de suas
indagações era o arrependimento. Dizia FINNEY: “O que é o arrependimento? Seria
um mero sentimento de pesar pelo pecado? Ou trata-se totalmente de um estado
mental passivo, ou inclui um elemento voluntário? Envolve-se uma mudança na
maneira de pensar, que tipo de mudança é esta?” (FINNEY, 1980).
Em suas memórias, FINNEY declarou que não podia aceitar a concepção em
matéria de expiação, regeneração, fé, arrependimento, escravidão da vontade, ou
qualquer uma das doutrinas que Gale acreditava. Ele rejeitou totalmente a
doutrina bíblica, e, talvez, muito da ignorância sobre a sua vida, a sua teologia
e a sua larga aceitação no meio evangélico sejam fruto da visão distorcida
relatada por seus biógrafos. Ao invés de esclarecer quem era na verdade esse
homem e o que ele cria, eles valorizaram sua paixão pelos resultados e seu
aparente sucesso nas cruzadas evangelísticas, e menosprezaram a questão de
maior importância, a sua questionável teologia.
O prefácio da edição brasileira de sua teologia sistemática descreve FINNEY
como o mais importante teólogo do Cristianismo, comparando-o a Tomás de Aquino.
Diz que, se este construiu uma catedral, Charles Finney consagrou “um templo
cujo lugar santo, descerrado já o véu, conduz-nos ao coração do eterno”. (FINNEY,
2004)
Um dos seus biógrafos, Orlando Boyer, descreve, nos termos que se seguem,
a crença de Charles Finney:
De manhã cedo, fui para o gabinete...
Parecia que uma voz me perguntava: “– Por que esperas?– Não prometeste dar o
coração a Deus?– O que experimentas fazer?– alcançar a justificação pelas
obras?” Foi então que vi, claramente, como qualquer vez depois, a realidade e a
plenitude da propiciação de Cristo. Vi que sua obra era completa e, em vez de
eu necessitar duma justiça própria para Deus me aceitar, tinha de sujeitar-me à
justiça de Deus por intermédio de Cristo...(BOYER, 1999)
Pela sua doutrina, revelada em sua teologia sistemática, ele não cria na
propiciação de Cristo, sua obra completa, e a necessidade de se sujeitar à
justiça de Deus por intermédio de Cristo. Assim, a teologia finneyana ia
delineando sua forma, e longe de serem inexpressivas e desestimulantes, as
pregações do jovem Gale surtiam efeito, mas não no sentido que ele pregava.
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