quarta-feira, 29 de outubro de 2014


A TEOLOGIA PRAGMÁTICA DE CHARLES FINNEY


Charles Finney nasceu em 29 de agosto de 1792, em Warren, Litchfield Count, Connecticut, mas viveu grande parte de sua infância no condado de Oneida, no Estado de Nova York. Não foi criado segundo os princípios cristãos, pois seus pais não conheciam o Evangelho e nem professavam outras religiões, e FINNEY cresceu sem qualquer conhecimento da doutrina cristã.

Não tinha Charles nenhuma recordação de qualquer pregação ou testemunho do Evangelho, em sua infância, na comunidade onde cresceu algo que era coisa rara e incomum daquele século; mas sempre havia aqueles que se atreviam a pregar. Os pregadores eram homens simples, tidos como ignorantes e objetos de piadas pela população da sua pequena cidade.

A religião de que FINNEY se lembrava era uma religião que não lhe chamava a atenção. Em sua biografia, ele descreveu um pregador de quem recordava em sua juventude:

 

Para dar uma ligeira idéia da suas pregações, permitam-me dizer que os seus sermões manuscritos dariam apenas para meter numa pequena Bíblia. Assentava-me na galeria e dali observava que ele punha sempre os seus manuscritos no meio da Bíblia, pondo seus dedos espalhados pelos muitos sítios onde teria de ir buscar muitos dos textos que ele necessitava na sua pregação. Por essa razão, necessitava de suas duas mãos para segurar a sua Bíblia, coisa que não lhe permitiam fazer qualquer uso de gesticulação requerida para o efeito. Conforme ia avançando, ia libertando os seus dedos um a um na medida em que ia lendo os devidos textos que teria para fazer uso. Assim que todos os seus dedos estivessem soltos e livres, o sermão terminava. A leitura que fazia dos seus sermões, nada tinha de convincente, apenas de simples monotonia. Mesmo que as pessoas atendessem aos muitos cultos, fiel e reverentemente, confesso que para mim nunca serviram para nada. (FINNEY, 1980)

 

 

É possível perceber que, desde a juventude de FINNEY, o pragmatismo rondava-lhe a percepção do mundo. A mensagem que ele ouviu do pastor foi recebida como um insípido discurso de doutrina, fazendo com que concluísse que qualquer um poderia julgar que aquele tipo de pregação não faria efeito ou não traria interesse a um jovem como ele que não conhecia e nem se importava com a religião. Portanto, algo para FINNEY estava errado nas pregações que ouvira na época e era preciso uma reformulação, uma nova metodologia para pregação do Evangelho, uma metodologia que tivesse efeitos práticos.

Em sua juventude, resolveu estudar Direito e buscou conhecimento em Adams, Nova York; foi lá que Charles se envolveu ativamente em uma igreja local. Tratava-se de uma igreja presbiteriana, e seu pastor, interessando-se por suas idéias, o visitava em seu escritório para conversar sobre matérias espirituais.

O jovem estudante pesquisava direito elementar e as referências bíblicas em seus livros começaram a lhe chamar a atenção. Foi este fato que despertou uma grande curiosidade de estudar a Bíblia. O estudo das escrituras e as pregações de George W. Gale, seu pastor, levou FINNEY a novamente concluir que as mensagens não traziam a edificação.

Nesta altura de sua vida, Charles Finney já demonstrava certo repúdio pelo Calvinismo, base doutrinária da igreja presbiteriana, e em suas conversas com o jovem pastor Gale, Charles o interrogava e pressionava com perguntas a respeito das questões centrais de sua doutrina. O alvo principal de suas indagações era o arrependimento. Dizia FINNEY: “O que é o arrependimento? Seria um mero sentimento de pesar pelo pecado? Ou trata-se totalmente de um estado mental passivo, ou inclui um elemento voluntário? Envolve-se uma mudança na maneira de pensar, que tipo de mudança é esta?” (FINNEY, 1980).

Em suas memórias, FINNEY declarou que não podia aceitar a concepção em matéria de expiação, regeneração, fé, arrependimento, escravidão da vontade, ou qualquer uma das doutrinas que Gale acreditava. Ele rejeitou totalmente a doutrina bíblica, e, talvez, muito da ignorância sobre a sua vida, a sua teologia e a sua larga aceitação no meio evangélico sejam fruto da visão distorcida relatada por seus biógrafos. Ao invés de esclarecer quem era na verdade esse homem e o que ele cria, eles valorizaram sua paixão pelos resultados e seu aparente sucesso nas cruzadas evangelísticas, e menosprezaram a questão de maior importância, a sua questionável teologia.

O prefácio da edição brasileira de sua teologia sistemática descreve FINNEY como o mais importante teólogo do Cristianismo, comparando-o a Tomás de Aquino. Diz que, se este construiu uma catedral, Charles Finney consagrou “um templo cujo lugar santo, descerrado já o véu, conduz-nos ao coração do eterno”. (FINNEY, 2004)

Um dos seus biógrafos, Orlando Boyer, descreve, nos termos que se seguem, a crença de Charles Finney:

 

De manhã cedo, fui para o gabinete... Parecia que uma voz me perguntava: “– Por que esperas?– Não prometeste dar o coração a Deus?– O que experimentas fazer?– alcançar a justificação pelas obras?” Foi então que vi, claramente, como qualquer vez depois, a realidade e a plenitude da propiciação de Cristo. Vi que sua obra era completa e, em vez de eu necessitar duma justiça própria para Deus me aceitar, tinha de sujeitar-me à justiça de Deus por intermédio de Cristo...(BOYER, 1999)

 

Pela sua doutrina, revelada em sua teologia sistemática, ele não cria na propiciação de Cristo, sua obra completa, e a necessidade de se sujeitar à justiça de Deus por intermédio de Cristo. Assim, a teologia finneyana ia delineando sua forma, e longe de serem inexpressivas e desestimulantes, as pregações do jovem Gale surtiam efeito, mas não no sentido que ele pregava.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário