quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O MISTÉRIO DA INIQUIDADE


II tessalonicenses 2. 7 a 10

Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade.

Sempre houve muita curiosidade no meio da igreja de quando e como será volta de Cristo. Os discípulos eram perseguidos pelas palavras escatológicas de nosso Senhor até que por fim lhe perguntaram sobre os últimos dias, como está descrito no sermão profético. Mais eu não sei se os discípulos entenderam as palavras de Jesus. Creio que o Senhor obscureceu mais do que esclareceu. Não porque ele queria que isso acontecesse, mas porque não temos capacidade de compreender suas palavras. E isso é revelado em Atos capitulo primeiro quando os discípulos perguntam novamente sobre a sua vinda. A conseqüência de sua dúvida foi uma repreensão por parte de nosso Senhor. E eu creio que essa busca por desvendar o mistério não era diferente para a igreja em Tessalônica.

Em sua primeira carta, Paulo orienta os irmãos sobre o retorno de Cristo para reunir os santos, vivos e mortos. Parece que Paulo fala do arrebatamento na primeira carta, mais fala da segunda vinda de Cristo na carta posterior. A forma que Paulo escreveu a primeira carta parecia que o Senhor viria na manhã seguinte. Mas esse não era sua intenção. O que o apóstolo tinha em sua mente era despertar a vigilância daqueles irmãos. Sua real intenção era que eles vivessem em um estado de expectativa constante para não serem pegos de surpresa.

Por que esse assunto em sua carta? Por causa do sofrimento da igreja em Tessalônica. Aqueles santos passavam por uma dificuldade sem igual. Havia uma forte perseguição por parte de Roma, e a situação era terrível para a igreja. As palavras que seriam para confortar surtiram um efeito contrário. Já que o Senhor voltaria logo, então porque me ocupar nas coisas dessa vida? Alguns deixaram tudo de lado, inclusive o trabalho e trouxeram problemas para a própria igreja. Outros, pela excitação da mensagem começaram a alegar terem recebidos revelações de Deus ou uma palavra especial de Paulo dizendo que o fim está próximo. E o apóstolo corrige esse erro em sua segunda epístola.

Como Paulo corrige essa distorção?

Primeiro: ele diz que antes que o Senhor venha, alguns eventos terão que acorrer. Antes que venha o fim, um governante maligno surgirá no cenário mundial. Ele será conhecido como o homem do pecado e reclamará para si toda a autoridade, tanto secular como divina, assim como exigirá a total submissão dos homens à sua lei, que inclusive deverão prestar-lhe adoração. Alguns comentaristas dizem que ele chegará ao ponto de se assentar no templo de Deus fisicamente. Mas parece ser um modo metafórico de expressar seu desafio a Deus, como é visto no Antigo testamento. Esse iníquo terá poderes satânicos para enganar os homens e desviá-los da verdade. A essência de seu caráter é sua iniqüidade. Ele desafia tanto a lei de Deus como as leis da humanidade, insistindo que somente a sua vontade é lei.

Segundo: O aparecimento desse homem será acompanhado ou precedido pela apostasia. Essa palavra, apostasia, é traduzida como abandono, afastamento. O entendimento que se chega à maioria da interpretação dos pregadores é de uma apostasia dentro da igreja. Mas a tradução exata é rebelião, revolta de um modo geral. Diante disso nós temos:

Iniquidade, que é a rebelião as leis divinas e humanas.
Apostasia, abandono, o desapego as leis.

Esses são os fenômenos que ocorrerão antes da vinda do Senhor Jesus. As duas palavras apontam para a mesma coisa. A ideia não é nem tanto se desviar do Senhor em direção a apatia, mas sim um posicionamento deliberado de uma violenta oposição a Deus. Essa rebelião já estava operando nos tempos de Paulo e será um evento definitivo e apocalíptico no fim dos dias.

O anticristo se oporá a toda a autoridade divina, como será apoiado por uma rebelião geral contra Deus. O iníquo terá seu poder instituído por uma sociedade iníqua. Essa sociedade apoiará esse homem porque estará vivendo uma violenta iniquidade. O papel das mídias, dos políticos, da ONU, do cinema, e de tantos outros meios é implantar essa rebelião. O novo modo de pensar que surgiu através do advento da pós-modernidade, onde já não há mais limites e nem absolutos, foi à cartada de mestre da mente por detrás do desenrolar dessa trama.

Eu sempre me perguntei como, diante de tantos filmes, documentários, livros e artigos seculares sobre o anticristo, o mundo e a própria “igreja” aceitará esse líder. E a resposta é a iniquidade. Ela cegará o entendimento de todos os que já estão predispostos a isso.

A operação do erro não é algo novo. Ele sempre esteve em operação nos grandes impérios mundiais. Na verdade eles são os propagadores desse mistério. Mas algo os detinha. Alguma coisa restringiu e ainda restringe o aparecimento do iníquo, o homem do pecado. O problema é que Paulo não nos revela esse algo, o principio restritivo claramente. No entanto ele diz que quando esse algo for tirado, o iníquo se revelará.

Há várias interpretações sobre quem e o que restringe esse mistério de ser revelado. A mais forte é que o Espírito Santo, a igreja, ou os dois juntamente detém a revelação do iníquo. O arrebatamento seria a forma que Deus os tiraria deste mundo e deixaria, dessa forma, o caminho livre para ele. Mas o problema é que não há base bíblica para dizer que o Espírito Santo será tirado. E mais, está bem claro que uma parte da igreja não será arrebatada.

Outros que dizem que é a obra missionária de Paulo que se torna o empecilho. Estes creem que o evangelho tem que ser pregado em todo mundo para que diante disso o fim venha. A obra missionária seria aquilo que detém o aparecimento do anticristo. Essa visão é muito forte em nosso meio e teve como o seu principal propagador, Oswald Smith, e seu livro paixão por almas. Creio que a dificuldade dessa interpretação se encontra na questão de qual geração ele está focando. E é simples entender isso. Onde o evangelho não pode entrar hoje, no passado era o berço da obra missionária dos discípulos. Onde eu preciso pregar para cumprir a profecia, há muito tempo atrás eram lugares já evangelizados. Então temos que restringir essa interpretação a uma geração. Se não foi a de Paulo, tem que ser a nossa.

E uma terceira interpretação, e aquela que quero discutir nessas linhas, é que o principio restritivo seria o império romano, onde a pessoa do imperador restringia o aparecimento do iníquo. O interessante é que Paulo via a magistratura, mesma a Roma pagã, como ministro de Deus para o nosso bem, como está descrito em Romanos 13.4. O imperador nessas circunstâncias era nada mais que Nero, o assassino de cristãos. A questão não era obedecer às leis imorais, mas as morais, aquelas leis constitucionais que zelam pela preservação da sociedade e para o bem comum de um país. 

Apesar de toda a imoralidade de Roma, esse império era baseado em leis que regiam o bom funcionamento do estado e dos cidadãos. Nero não tinha poder absoluto naquela época. O senado tinha autoridade e lutou contra as loucuras desse imperador. Portanto, o que Paulo via como o principio restritivo para o aparecimento do iníquo era a revolta contra as leis de Deus, não somente as suas leis reveladas na Bíblia, mas as constituídas na moral que zelam pelo bem comum.

Deus ordenou que as autoridades humanas preservassem a ordem, isto é, aprovem aqueles que fazem o bem e que puna os que fazem o mal. Quando isso é feito, a vontade legal de Deus é estabelecida. Deus é glorificado quando suas leis divinas são observadas, assim  como a lei secular é observada, pois elas vêem da mesma autoridade e é para o bem da humanidade.
Essa lei instituída em uma sociedade, país, tribo ou nação é a vontade de Deus e seu governo sendo estabelecido. Ele limita os mais obscuros desejos humanos. Ele restringe a pecaminosidade, a injustiça, e quando pecadores como nós evitamos pela lei, tanto gravada em nossos corações como a lei humana de cometermos pecados contra o próximo, Deus é glorificado nisso. O senso moral do ser humano impõe limites para sua natureza egoísta e pecadora. Alguns conseguem se impor sobre sua vontade, outro se rendem a sua natureza.

Então, se a vontade de Deus é a lei instituída, a antítese dessa lei estabelecida é a iniquidade, rebelião, a divinização do estado, de modo que este não seja mais um instrumento da lei, da ordem, mas um sistema totalitário que desafia a Deus e exige culto por parte dos homens. E quem são eles? Todos os sistemas que trabalham com esse propósito, seja o nazismo, o comunismo, ou qualquer forma de governo que se levante contra Deus. E qual é a função do atual governo brasileiro? Estabelecer uma lei que trás ordem e moral para esse país? Creio que não. As Leis que estão sendo implantadas no Brasil são leis que desafiam a autoridade da Bíblia e de Deus.  E quando olhamos para a América do Sul a nossa situação é critica porque na grande maioria os governos são satânicos. Eles estão derrubando todo tipo de liberdade constitucional em todo território americano com a propaganda dos direitos humanos, direitos que declaram a independência do homem com respeito ao seu Criador. O que é isso senão o antigo satanismo.

Esse é o plano para que o anticristo venha. Derrube todo tipo de nação que tenham sua constituição baseadas em Deus, princípios morais ou na Bíblia e teremos um governo demoníaco presente. Governo que prepara o caminho para o iníquo. Entende agora o porquê de se implantar uma sociedade desprovida de absolutos? O governo iníquo com uma sociedade iníqua dará todo o poder ao iníquo. Esse é o objetivo da nova ordem mundial: quebrar toda lei humana e divina que seja estabelecida em Deus. Daniel nos ensina esse principio no capitulo 7 verso 25 de seu livro:

Ele (o anticristo), falará contra o Altíssimo, oprimirá seus santos e tentará mudar os tempos e as leis.

Paulo estava vendo um dia em que a regência da lei sucumbirá, quando a ordem política será exterminada e assim, será ineficaz de continuar a restringir o principio da iniqüidade. Todas as leis absolutas e que estejam relacionadas à moral serão destruídas. O relativismo será implantado. O que importa é o seu desejo e suas insaciáveis imoralidades. Assassinamos a Deus e, portanto, tudo nos é permitido. É a lei do thelema em ação: faze o que queres há de ser o todo da lei.

Então, como a igreja apostata aceitará essas coisas? Como ela aceitará esse governo tirânico e satânico? A resposta é o mistério da iniquidade operando nos filhos da desobediência, cegando seus olhos para não verem o óbvio.  Lei por lei, ato por ato, a iniquidade está sendo implantada diante de nós. Olhe nossos jovens como estão. Você acha que isso é coincidência? É o espírito da época que opera em suas vidas. E o espírito da época tem operado de uma forma assustadora nesses dias. Tem se aceitado o absurdo em nome do bem comum, bem que só destruirá nossas famílias, enquanto as famílias de nossos inimigos continuam firmes e fortes.

Mas graças a Deus que no fim aquela rocha que se soltou da montanha sem auxílio de mãos humanas atingirá os pés da grande estátua e colocará tudo abaixo. Nunca mais iniquidade, nunca mais injustiça. Não haverá mais sinal de um reino iníquo e nem do iníquo. O Deus soberano estabelecerá um reino que jamais será destruído e que nunca será dominado por nenhum outro povo. Os reinos deste mundo se tornarão de nosso Senhor e do seu Cristo e ele,  juntamente com seus, reinarão eternamente.

Que a oração da igreja e o seu clamor se junte ao clamor do Espirito Santo nesses últimos dias:
Amém, Vem Senhor Jesus.

Soli Deo Gloria


Silas Carvalho
Movimento gospel: Corrupção ou morte.

É triste quando algo termina de uma forma tão abrupta, ainda mais quando esse algo era edificante para a igreja. A banda de Lucas souza, uma das poucas capixabas, chegou ao fim em maio. O que será que aconteceu para que eles tomassem essas decisão? Não preciso responder, pois ele mesmo o fez. Dá pra imaginar o que eles devem ter visto e passado nesse meio gospel. Leia e tire suas próprias conclusões.


"O movimento religioso evangélico e seus desdobramentos televisivos/radiofônicos, liderado por irresponsáveis gananciosos, e apoiado inclusive pelas denominações que se omitem e não se posicionam com as devidas obras, está fazendo com que toda uma sociedade veja Deus como diabo, e os crentes como verdadeiros demônios ou pragas sociais. Todo o trabalho de homens que se sacrificaram está indo por água abaixo. Tiraram o tampão do ralo. E o que ficou é o cheiro de podre dos que evacuam sobre o chão de se andar descalço.

Os evangélicos estão regredindo aos anos 70/80, quando eram destratados nas ruas e incompreendidos, só que sem a impulsão do sonho de ser um povo e de fazer história. E não é da perseguição profética/histórica que estamos falando. O que acontece agora é impar. 

Os chamados "homens de deus" - isso, com d minúsculo - porque os deuses são eles mesmos, depois de ruminar o próprio vômito, haverão de morrer engasgados nele. Compraram aviões, construíram castelos, e conquistaram o mundo, só que para si, ao custo das mentiras manipuladoras de cunho pseudo-profético-apoteótico-patético-pagão. 

Hoje eles combatem ardorosamente aqueles que fazem as maiores obras sociais nesse país, levantam espadas morais contra seus semelhantes, fazem atentados terroristas apologéticos, quando deveriam tão somente amar, e se aliar aos que, procurando, servem ao próximo. Enquanto um movimento religioso for servido por líderes tão caducos e apaixonados por si mesmos, será visto com justiça como a síntese dessa palavra que finda o texto: ridículo."




sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Emanuel, Deus entre nós.


Mateus 1.23  

Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco.

A encarnação de Deus é algo único somente no cristianismo. Apenas no evangelho é possível o Criador e sustentador de todas as coisas se tornar um simples carpinteiro. E o motivo disso é que na história da redenção Deus precisava ser homem e o salvador precisava ser Deus. E essa verdade é essencial para o evangelho. Os primeiros pensadores cristãos diziam que Deus fora humanizado e o homem fora divinizado.

O Verbo, a palavra eterna e criadora se tornou carne e viveu entre nós. O Apóstolo João nos diz que ele viu esse verbo, e não somente isso, ele tocou, ouviu, conversou, viveu com ele. E isso é tremendo. Como pode O criador descer a um nível tão baixo como o do Senhor Jesus? Ele era um simples homem e de tão simples que nem se diferenciava dos seus discípulos. Entende agora por que um judeu não podia crer nessa loucura? Julgamos tanto a atitude daqueles que rejeitaram a Cristo, mas se nós estivéssemos lá, talvez, agiríamos como eles ou ainda pior do que eles.  Julgarmos com toda a luz que temos é fácil.

Mas essa grande verdade distintiva do evangelho trouxe também muitas controvérsias para a igreja. Pensava-se no início que Deus era imutável, isto é, a sua substância não poderia ser mudada ao ponto de se tornar matéria. A influência platônica era muito forte entre os primeiros pensadores. Como Deus pode ser tornar matéria, essa mesma matéria má que queremos nos ver livre, pensavam alguns lideres da igreja primitiva. Nós homens esperamos nossa libertação desse corpo, e Deus se coloca debaixo dessa escravidão? Não! Jesus não assumiu um corpo material, mas apenas um corpo aparente. Era o que pensava os que seguiam o Docetismo diante dessa verdade tão absurda aos olhos humanos. Como pode um Deus todo poderoso, imutável, eterno, imperturbável pelo tempo e emoção, vir e se tornar um simples homem? Um simples servo? O grande Eu Sou, criador do Universo, sujeito as limitações humanas, deu um nó na cabeça dos primeiros teólogos cristãos.

É possível esse Deus tão tremendo se tornar como um de nós, meros homens? Sim, é possível. E por ser possível, a nossa salvação foi garantida, assegurada, obtida. Na encarnação, Deus se tornou homem e entrou em nossa história e assumiu todas as nossas experiências. Esse é o significado do seu nome. Emanuel é Deus não somente conosco, mas igual a nós. Ele esteve entre nós, vivendo, comendo, se divertindo, chorando, se entristecendo, menos pecando, é claro. Ele assumiu a forma humana, mas não a natureza pecadora.

Nesta curta mensagem de Deus a José, o anjo comunica que o Grande Eu Sou, é o Jesus se desenvolvendo no ventre de Maria. Deus parece brincar com a razão humana. Aquele bebê que nasceu, cresceu, foi educado por José e Maria é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele passou pelo processo que cada um de nós passou. Gerado por nove meses até nascer de parto normal. Foi amamentado e teve que aprender a andar. É algo realmente tremendo, para não dizer louco.

Isso mostra o seu grande amor. Aquele que o universo não pode conter se humilhou e por nove meses ficou limitado a um útero. Se ele viesse como ele é, teríamos sido destruídos no primeiro contado com esplendor de sua glória. Por isso ele se esvaziou e se humilhou e assim se tornou o filho do homem. Essa era a expressão que nosso Senhor mais amava. Filho do Homem. E ela trouxe conseqüências para o nosso Senhor. Ele agora não é como o Pai ou como O Espírito Santo em aparência. Ele é como um de nós, ou melhor, como nós seremos. É algo intrigante. Nós seremos como Ele em glória, mas não somente isso, nós somos hoje o que Deus sempre intencionou para o seu Filho Jesus. Ele criou o Homem porque O Filho se tornaria homem. De uma forma ou de outra seremos como Cristo. Hoje ele tem as cicatrizes de seu amor sacrificial em seu corpo, algo inimaginável. Como pode Deus ter cicatrizes. Mas o nosso Deus, o Deus homem chamado Jesus, tem. Ele é Deus homem e Ele é o Homem divino. Isso nos trás uma grande verdade. Seremos como ele, homens glorificados, homens divinizados. Louco, né? Mas é verdade.

Ele não era carne, mas veio a ser. Nós não éramos divinos, mais um dia seremos. A encarnação proporcionou essa verdade. Por isso como vemos que tipo de homem Jesus é definirá se estamos salvos ou não. Para os docetas Ele era somente Deus e não homem. Para Ário, ele era homem, mais não Deus como o Pai É. Se Jesus, em sua grande obra de redenção não for Deus e nem homem unidos em um só corpo, estamos ainda em nossos pecados, perdidos eternamente.
Sim, Jesus teve fome, sede, se cansou, sofreu dor e por fim, morreu. Mas por outro lado, ele teve poder sobre a natureza, os demônios, enfermidades e principalmente sobre a morte. Quem é esse Homem, então? Um ser humano dotado de poderes divino? Talvez Deus, mas somente com aparência humana? Ou ainda pior, aquele que é empregado do homem lhe dando tudo quanto este queira?

Se alguém vê aquele simples carpinteiro de Nazaré como esse tipo de coisa, está condenado caminhando para o inferno enganado pela astucia de Satanás. O Galileu que dividiu a nossa história é o Deus todo poderoso criador de todas as coisas e sustentador da vida. Mas ele também é homem, que assumiu a forma de servo para nos libertar de nossa escravidão para que sejamos um dia como que Ele É.

Crer nessa verdade é crucial para aqueles que foram alcançados pelo evangelho. Aonde a razão não chega à fé deve assumir seu posto. Aquilo que parece ser impossível ao homem moderno influenciado pelo materialismo, é possível para o homem de fé que foi desafiado a crer. Ele é Deus encarnado que está conosco e um dia se revelará como o Filho do homem. Esta é a grande verdade que nos trouxe a tão esperada liberdade.

Não é possível que alguém negue a divindade de Cristo e seja cristão. Ele recusa deliberadamente o único caminho de fugir da ira vindoura. Não posso entender, nem acreditar que tal homem entre pelos portais de pérola, se ele duvida ou desacredita da divindade de nosso bendito Senhor e Salvador Jesus Cristo, rejeitando a âncora básica de nossa mais santa fé. C. H. Spurgeon

Soli Deo Gloria


Silas Carvalho

sábado, 19 de setembro de 2015


Em quem esperar?




Salmos 39.7

Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha vida é como nada diante de ti; na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade.
Na verdade, todo homem anda numa vã aparência; na verdade, em vão se inquietam; amontoam riquezas, e não sabem quem as levará.
Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti.


Eu não queria estar escrevendo palavras como estas nas circunstâncias que nos encontramos. Ninguém está preparado para dias como este. Ninguém se prepara para o dia mau. Queremos viver a paz em todos os momentos de nossa vida, se possível nunca sentir a dor da perda. Mas o dia mau chegará. E hoje chegou para Marquinhos sua família e a família da Ingrid. Não para ela, pois onde ela está não há mau, apenas aquilo que é bom.

A família que fica neste mundo, sofre o mau ainda presente. O mau da perda, da dor, do sofrimento, da saudade, do sentimento de solidão, do desespero...
O rei Salomão tendo em sua própria experiência sofrido o que sofremos hoje, escreve em seu livro as seguintes palavras:

No dia da prosperidade regozija-te, mas no dia da adversidade considera; porque Deus fez tanto este como aquele...

Estar diante da família arrasada e do corpo sem vida se despedindo em nossa última comunhão presente é muito difícil. É nessas horas de tanta tristeza que nossa fé é provada. Nossa confiança em um Deus bom é desafiada a cair ou a permanecer de pé ante a perda. Nesses momentos perguntas inundam nossas mentes. Porque coisas ruins acontecem com pessoas boas? Nossa irmã tinha tanta a contribuir para este mundo, para sua família, para a igreja. Porém, não tem como argumentar diante da dor dos que sofrem. Não há explicação, e eu nem tentarei explicar escrevendo um tratado teológico sobre o porquê essas coisas acontecem.

O que nos resta a fazer é se agarrar em Deus, porque Ele é bom e tem cuidado de nós. Essa dor que marquinho está sofrendo, assim como sua filhinha, seus pais, os familiares da Ingrid e todos os seus amigos que a amavam estão sofrendo, Deus, o Pai também sofreu. Ele não permitiu com que a morte entrasse no mundo para que nós sofrêssemos e se alienou dessa experiência tão amarga, vendo o sofrimento como o sofrimento dos outros. Não! Ele não se isentou desse sofrimento que hoje sentimos. A dor da perda foi experimentada também por Ele. O nosso Deus sabe por experiência o que é sofrer o que sofremos hoje.

Ele sofreu essa dor para nos dar esperança que um dia veremos os nossos amados novamente. Antes, a morte reinava soberana sobre todo o universo. Ela era implacável. Cobrava o seu salário a todas as famílias da terra, e na hora certa ela batia em nossas portas. Não havia argumentos, poder ou esperança. Mas cristo, aquele que morreu, mudou essa história. Ele mudou a nossa história. Em Cristo não mais temor. Não há mais medo. Não há mais desespero. O que há para aqueles que nEle estão é uma implacável confiança. Confiança que nos levanta para desafiar a morte e dizer ante a sua face:

Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?
Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.


A morte de Ingrid não é sinal de derrota. Ela não está derrotada, antes é vitoriosa por que a experiência de Cristo se tornou a nossa experiência. Ele venceu a morte e juntamente com ele somos vencedores. Ingrid não está em meio ao desespero. Não há medo em seu coração agora. Ela está com Cristo à espera de Marquinhos, de seus filhos, de seus Pais e irmãos e de todos que a amavam. E o seu desejo hoje, na glória, é poder ver todos aqueles que com ela tiveram comunhão nessa terra. Se nós pudéssemos ver Ingrid nesse momento, não era tristeza em seu rosto, ou lágrimas de pesar em seus olhos que veríamos. Era o seu lindo sorriso que contemplaríamos. Uma alegria contagiante que sentiríamos. Ela tocaria no rosto de seus amados e os confortaria diante da dor e os animaria a continuar firme em sua fé em Deus e confiando em Cristo. E o motivo é simples: na morte de Cristo foi declarada a morte da morte. 

A esperança reina nos corações daqueles que foram alcançados pelo amor do Pai. Um dia a veremos e estaremos para sempre juntos desfrutando da comunhão daquele que morreu, mais ressuscitou e nos chamará, como hoje chamou a Ingrid, para estarmos para sempre juntos.

Escrevo essas palavras com lágrimas em meus olhos, meu irmão. Que Deus conforte seu coração nesse momento tão difícil.


De seu amigo, Silas Carvalho

sábado, 12 de setembro de 2015

INCOERÊNCIA REFERENCIAL



Há um tempo, eu conversava com um amigo sobre o seu líder, um pastor conhecido no Brasil. Retruquei com ele sobre a formação teológica desse pastor, e ele me disse que a sua visão havia mudado muito nesse ultimo tempo. Eu sabia da influência neo-pentecostal desse líder, apesar de sua paixão pelas almas e por Deus. Eu não o desprezava. Na verdade eu gostava de ouvir suas pregações. Ele havia passado por um forte tratamento de Deus sobre sua vida. Muito daquilo que ele cria realmente havia ficado para trás, mas ainda em minha cabeça, restava algo da velha formação nele. Esse amigo me disse que sua visão era mais reformada hoje. Então lhe perguntei com ar de esperança: ele é Calvinista? E ele me respondeu: Calvinista, não. Ele é Spurgionista.

Eu realmente não entendi esse argumento e respondi: se ele é Spurgionista tem que ser Calvinista, por que Spurgeon era mais Calvinista do que o próprio Calvino.

Era legal saber que esse líder estava sendo influenciado por esse grande pregador. A igreja brasileira precisa urgentemente de pregadores capazes como ele. Mas conhecendo um pouco da vida e da obra desse homem, não tem como perceber as suas crenças. Ele era um defensor da verdade do evangelho, e a verdade que me refiro é os fundamentos da graça da fé reformada.  Porque ele abre a boca para dizer que é Spurgionista e se cala, para não dizer, se envergonha, ou pior, teme em dizer que é Calvinista? E porque Spurgeon e não Calvino? Será que o primeiro tinha mais paixão que o ultimo? Ou será que o ultimo era menos evangelista que o primeiro? O ponto aqui não é defender a paixão missionária de Calvino, algo que está bem claro para nós brasileiros, principalmente, se lermos nossa história buscando conhecer a chegada do evangelho no Brasil e a confissão de fé da Guanabara.

Mas o ponto aqui é sobre nossos referenciais. Tendemos a nos apegar a algumas facetas desses grandes homens, mas muitas das vezes o que realmente importa é deixado de lado. Temos uma visão pragmática dos ministérios de alguns pregadores do passado e do presente. Exclui-se o que é polêmico e se apega ao que trás evidência. Desconstruímos a vida desses vultos, para nos apossar daquilo que nos interessa. E tudo aquilo que é politicamente incorreto em nossos dias é descartado por um simples fato: não trás proeminência nos púlpitos da igreja brasileira.

Spurgeon, o grande evangelista, ganhador de almas.

Que legal né. Essa é uma grande verdade, mas apenas parte dela. Spurgeon era um zeloso Calvinista que defendeu a verdade do evangelho com unhas e dentes em seus dias. O que o guiava? O seu referencial, Calvino. Não era uma parte legalzinha desse grande reformador que esse pregador trazia em seu ministério. Ou aquela parte que não lhe traria problemas na comunidade cristã. Não! Ele havia bebido de toda essência de seu mestre. Olha que eu coloco o que é essencial. Ele não se envergonhava de se chamar Calvinista e nem que os outros soubessem quem ele era e qual era a sua doutrina. O que sou, eu sou para glória de Deus, creio que dizia Spurgeon.

E o que ele pregava em seus dias? Uma mensagem pragmática onde o pecador semimorto em seus pecados tem poder de decidir por Cristo, ou rejeitá-lo, sendo o papel do pregador, persuadi-lo a aceitar a Cristo com musicas e apelo após uma pregação emocionalista vazia do evangelho? Com certeza não! O que ele pregava era o estado miserável do pecador, morto em seus delitos e pecados, incapaz de vir a Cristo. Somente a misericórdia de Deus o impedia de ser lançado no inferno, lugar real que cada pecador merece estar. Ele dependia totalmente da graça de Deus e do agir soberano do Espírito Santo em sua vida, senão ele estava perdido.

Se você quer ser seguidor de um referencial, creio que em questões secundárias pode até haver divergências, mas não em questões primarias, ou essenciais. Por exemplo: eu sou Calvinista e creio, sem nenhuma duvida em meu coração, nos cinco pontos do Calvinismo. Entretanto, eu não tenho a mesma visão escatológica que Calvino. O mesmo com a visão da dicotomia do Teólogo de Genebra. Isso afeta a questão deu ser reformado, ou Calvinista? Não! Porque essa não é a essência da sua teologia.  E se eu sou Spurgionista é porque sou Calvinista. Sem esse referencial, não tenho autoridade para arrogar Spurgeon como meu tutor.

Diante disso, que tipo de homens tem sido gerado na igreja brasileira? Creio que uma caricatura daquilo que já foi um dia. Se quisermos estar isentos de referenciais, então não devemos ler nada de homem algum, a não ser a bíblia. Mas é principalmente nela que estão os nossos referenciais. Jesus está lá, juntamente com Paulo e Pedro. Lá está Abraão, Isaque e Jacó. Também os profetas, como a maçante geração de Elias de nossos dias, ou Jeremias, ou ainda, a geração de João Batista. Não temos como escapar de termos referenciais.  Vivemos a sombra de referencias, e se quisermos segui-los, devemos ser fiéis a sua essência.

Entretanto, alguns podem dizer: eu não sou de Paulo, Pedro ou Apolo, mas de Cristo. Esses espirituais excluem toda a história da teologia cristã, rogando uma falsa humildade. Eles são os piores. São os fanáticos, os extremistas que rejeitam toda a tradição da igreja por seu orgulho de não querer ter referenciais, algo que é impossível. Não há isenção. Ninguém se achega a palavra sem pressupostos. Na verdade é o pressuposto que vai te guiar na verdadeira interpretação da verdade. A questão não é se eu tenho referencial ou não, mas qual é meu referencial, e mais, se eu sou fiel a ele.

Há certa presunção em muitos lideres hoje que se dizem isentos de referenciais, até que uma antiga foto, ou um antigo vídeo prova o contrário. Ninguém é isento de referenciais, repito. E creio que isso é um principio desde os tempos do senhor Jesus. Ele é o primeiro referencial para a igreja. Os apóstolos olharam para ele e foram fiéis a sua essência. Os Pais da igreja olharam para os apóstolos e foram fiéis a sua essência. Os reformadores olharam para esses pais e foram fiéis a sua essência, e até Lutero tinha referencial. Ter uma referencia é algo certo.  Quem é ele e se eu sou fiel, é onde se esconde o problema. Não há como encobrir o que você é ou prega. Se seu tutor é Spurgeon, não tem como desconstruí-lo para que ele seja mais aceitável, ou você. Seja fiel a essência, custe o que custar. É muito mais digno sofrer o que seu referencial sofreu pela verdade do evangelho do que ser aceito pelo povo escravizado pela mentira e assim cair em sua graça. Portanto, seja fiel aquele da qual você aprendeu, e se tiver que sofrer por segui-lo, seja homem suficiente para isso. É de homens assim que a igreja brasileira precisa principalmente se for seguidor fiel de pregadores como Spurgeon.



Soli Deo Gloria

Silas Carvalho

quinta-feira, 10 de setembro de 2015


QUEM ERAM OS FILHOS DE DEUS EM GÊNESIS 6?

TEXTO-CHAVE: GÊNESIS 6.2

Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.

Poucos textos das Escrituras são capazes de gerar tantas dúvidas e divergências como o de Gênesis 6.2. Tal situação para o estudante da Bíblia torna-se ainda mais difícil diante do fato de que há mais de uma posição razoavelmente defensável, defendidas por excelentes eruditos dos escritos sagrados. Seriam os Filhos de Deus anjos, descendentes de sete, ou reis? E as filhas dos homens, são mulheres descendentes de Adão ou especificamente descendentes de Caim?

Este estudo tem o objetivo de apresentar diversas interpretações conflitantes sobre o tema. Longe de fechar questão, nosso objetivo é conduzir o leitor em uma visão abrangente do debate. Embora não adotemos explicitamente um ponto de vista, criticaremos alguns que nos parecem fugir do âmbito de permissão das Escrituras.

Antes de iniciarmos, vale uma advertência: tendo em vista a concorrência de boas opiniões sobre o assunto, particularmente adotamos a postura de que este texto não deve ser utilizado de forma isolada para sustentar doutrinas cristãs. Qualquer ensinamento que exija o comprometimento com alguma interpretação específica desse texto demonstra sua fragilidade. Não estou dizendo que qualquer texto em que exista uma divergência de opiniões não deve ser usado para estabelecer doutrina. Este texto é um caso isolado, pois mais de um ponto de vista é coerente. Em inúmeros outros versículos há divergências, mas percebe-se notadamente que uma interpretação é muito mais sólida com toda a Escritura. Não nos parece ser o caso de Gênesis 6.2. Aqui duas ou três posições possuem uma lista de argumentos notáveis.

Assim, não devemos classificar um grupo como ortodoxo e outro como herético simplesmente por divergência nessa questão.
Diante de todo o exposto, convido o caro leitor a ingressar no estudo e análise de um dos textos mais misteriosos e polêmicos de toda a Bíblia. Seguiremos o mesmo formato para todos os pontos de vista: Apresentação, principais defensores, argumentos utilizados e uma breve conclusão. Aproveite a leitura!

1° POSIÇÃO
 OS “FILHOS DE DEUS” ERAM DESCENDENTES DE SETE. AS FILHAS DOS HOMENS ERAM DESCENDENTES DE CAIM

a) Apresentação
Essa tem sido a interpretação cristã mais tradicional desde o século 3º d.C. Segundo este entendimento os Filhos de Deus são os descendentes de Sete. Já as filhas dos homens são descendentes de Caim. Nesse sentido, a mistura dessas duas sementes contaminou a linhagem piedosa de Sete. O remédio para este “jugo desigual” foi o dilúvio.

b) Defensores;

Ø Efrém da Síria (306-373 d.C)
Ø Agostinho de Hipona (354-430 d.C)
Ø Martinho Lutero (1483-1546 d.C)
Ø João Calvino (1509-1564 d.C)
Ø Bíblia de Estudo Apologética, pg 11
Ø Bíblia de Estudo Pentecostal, pg 41
Ø Wayne Grudem1

c) Argumentos;

Ø Anjos não se casam (Mateus 22.30 e Marcos 12.25)2
A expressão “tomar para si” é linguagem própria para referir-se ao casamento no Antigo Testamento. Se em Gênesis 6 fossem anjos haveria uma contradição com a afirmação de Jesus.

Conforme afirma Keil, “no versículo 2 se declara que “viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” Ora, o termo hebraico “laqach ‘ishah”, tomar uma esposa, é uma frase que se mantém através de todo o Antigo Testamento para a relação do matrimônio, estabelecida por Deus na criação, e nunca se aplica a “porneia”, prostituição, relação sexual ilícita. Isto basta para excluir qualquer referência aos anjos”. No mesmo sentido afirma S.E.McNair que “A expressão “tomaram para si mulheres” é usada por todo AT somente com referência ao casamento legítimo, nunca às relações sexuais ilícitas.”


Ø Os textos seguintes a Gênesis 6.2 demonstram que o juízo do dilúvio é contra a humanidade e não contra a esfera celestial
Especificamente, Gn 6.3 chama os ofensores de “carne” (“basar”, mortal na NVI). Se os Filhos de Deus eram anjos, alguma referência de juízo sobre eles deveria aparecer no texto também.
O verso 5 é claro em dizer que o Senhor viu a “maldade do homem”. O versículo 6 diz
que o Senhor se arrependeu de fazer “o homem”. O versículo 12 afirma que toda
“carne” havia se corrompido. Conclui-se que apenas a humanidade esteve envolvida no pecado, pois todo o contexto trata da maldade e do juízo dos seres humanos.

Ø O contexto não permite a presença de anjos
O contexto de Gênesis 4, 5 e 6 não admite a presença de anjos, mas apenas de seres
humanos. Não há referências a anjos.

Ø O contexto aponta para duas linhagens
O Capítulo 4 trata da descendência de Caim, apresentando poligamia e assassinato. A
genealogia de Caim começa com Caim – Gênesis 4.17-24.
A partir do versículo 25 do capítulo 4 até o final do capítulo 5 temos a descrição dos
descendentes de Sete. Ela começa com Deus (5.1). Ela aponta para uma linhagem
piedosa. Vejamos:

Enos, filho de Sete começou a invocar o nome do Senhor (Gn 4.26)
Enoque andou com Deus, e Deus o tomou para si (Gn 5.22-23)
Lameque (parece ser temente a Deus, pois atribui nome a Noé com significado
relacionado às verdades espirituais – Gn 5.29).
Noé andava com Deus e achou graça aos seus olhos (Gn 6. 8, 9)
Assim, pelo contexto, podemos diferencias duas linhagens, estas melhor explicando as
expressões Filhos de Deus e Filhas dos Homens. Note:

Filhos de Deus
Descendentes de Sete 
 Registro da genealogia remete a Deus –
Gn 5.1 (Por isso a expressão “Filho de Deus”)   
Linhagem marcada por ser piedosa (Ex.
Enos, Enoque, Lameque e Noé)
                                                                                                            
Filhas dos Homens
Descendentes de Caim
Registro da genealogia                
começa em Caim –
Gn 4.17. (Por isso a expressão “filhas dos homens”)
Linhagem marcada por ser assassina e
polígama (Caim e Lameque)


                                                
Ø Gigantes (Nefilins) também aparecem em Números 13.33
Os Nefilins não são um grupo exclusivo decorrente de eventual relação entre e homem e anjos. Se assim fosse, como justificar a presença de Nefilins em Números 13.33 (mesma palavra de Gn 6)? Eram descendentes da família de Noé, não de anjos. Ressalte-se, ainda, que Gn 6.4 afirma que naquele havia já havia gigantes na terra, antes do acontecimento entre Filhos de Deus e filhas dos homens.3
Ademais, havia muitos outros gigantes na época de Moisés, de Josué, de Davi e até mesmo em épocas mais recentes. Ao lado vemos a foto de Robert Pershing Wadlow, com estatura de 2,75 (quase a mesma do Gigante Golias). Robert morreu em 1940.

Atualmente temos o ucraniano Leonid Ivanovych Stadnyk, com cerca de 2,55 metros de estatura. Foi considerado em 2008 como o homem mais alto do mundo.
Portanto, antes da relação entre os Filhos de Deus com a filhas dos homens já existiam
gigantes, bem como depois do Dilúvio.
Vale observar que traduzir nefilins como gigantes é algo bastante duvidoso. Sobre o
assunto afirma o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento: “Na
realidade, a tradução “gigantes” fundamenta-se principalmente na LXX e pode trazer
bastante confusão. A palavra pode ser de origem desconhecida e significar “heróis” ou
guerreiros violentos.”4               

Ø Anjos são espíritos (Hebreus 1.14)
Em Lucas 24.39 Jesus afirmou que um espírito não tem carne e osso. Hebreus 1.14
afirma que anjos são espíritos. Logo, anjos são incorpóreos. Não possuem órgãos
reprodutores. Se alguns anjos comeram, isso se dá por estarem na companhia de Deus e a seu serviço, sendo para isso capacitados por Deus. Os anjos caídos não tem essa capacidade. Note que os demônios quando precisam de um corpo não se humanizam, mas possuem um ser humano.

Ø Cada um segundo a sua espécie
Os seres criados por Deus se reproduzem segundo a sua espécie. O ser humano é carne e o anjo é espírito. Essa mistura gerando filhos violaria a impossibilidade de reprodução de espécies distintas.
Por fim, ressalte-se que criar vida humana parecer ser um trabalho reservado unicamente a Deus.

Ø Homens também são chamados de Filhos de Deus
A expressão Filhos de Deus pode ser atribuída a seres humanos (Dt 14.1; Os 1.10;2.1). De acordo com Lc 3.37, 38, o próprio Adão é chamado de filho de Deus.

Ø Anjos bons não sentem desejos por mulheres. Anjos caídos não poderiam ser chamados de filhos de Deus

Ø Os Livros apócrifos e pseudoepígrafos que afirmam serem os filhos de Deus anjos foram produzidos em tempos gnósticos e com forte influência de mitologias
Os conteúdos destes livros não são dignos de crédito. Possuem informações absurdas.
Exemplos:
o I Enoque afirma que os gigantes que nasceram da relação entre anjos e humanos possuíam cerca de 1.300 metros de altura (3.000 côvados). O edifício mais alto do mundo possui cerca de 800 metros de altura (foto ao lado), ou seja, 500 metros
menor que os gigantes do Livro de Enoque.
O Testemunho dos Doze Patriarcas afirma que os anjos foram atraídos pelas
mulheres por causa dos enfeites no rosto e no cabelo.

d) Conclusão
Este entendimento realmente possui argumentos sólidos, bem como uma excelente lista de representantes. Se ele estiver certa, o texto se torna mais simples e menos misterioso.
Todavia, não obstante à solidez dos argumentos, esse ponto de vista não está sozinho. Outras opiniões,são amplamente defendidas na comunidade cristã, apresentando, também, bons subsídios para suas teses.

2° POSIÇÃO – OS “FILHOS DE DEUS” ERAM ANJOS. AS FILHAS DOS HOMENS ERAM MULHERES DESCENDENTES DE ADÃO

a) Apresentação;
Bastante misteriosa, esta corrente ensina que Gênesis 6 apresenta o relato da segunda queda dos anjos. Os Filhos de Deus seriam anjos que tiveram relações sexuais com mulheres humanas, gerando filhos. Diante dessa grave mistura o Dilúvio foi a única solução para o ocorrido.

b) Defensores;

Ø Flávio Josefo, História dos Hebreus, CPAD, pg. 80.
Ø Justino Mártir, Segunda Apologia (100-165 d.C)
Ø Irineu de Lyon (130-202 d.C)
Ø Tertuliano (160-220 d.C)
Ø Clemente de Alexandria, (150-215 d.C)
Ø Nemésio de Emesa (400 d.C)
Ø Ambrósio de Milão (340-397 d.C)
Ø Comentário Bíblico Moody, Editora Batista Regular, pg. 16
Ø Comentário Bíblico Popular, Editora Mundo Cristão, pg. 17
Ø Comentário Bíblico Vida Nova, Editora Vida Nova, pg. 108
Ø Bíblia de Estudo Plenitude, pg. 12
Ø Bíblia de Estudo Anotada, pg. 13
Ø Manual Bíblico Unger, Editora Vida Nova, pg. 45
Ø Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 1, pg. 58
Ø G.H. Pember, As eras mais primitivas da terra, tomo 1, pg. 205-218
Ø Codex Alexandrinus, do século V d.C

c) Argumentos;

Ø A Expressão “Filhos de Deus” (Jó 1.6; 2.1; 38.7)
Charles C. Ryrie, comentando o texto de Gênesis 6, afirma que “a expressão filhos de
Deus é usada no AT quase que exclusivamente com referência aos anjos”.
Nesse sentido, o mais natural seria entender que aqui a expressão também se refere a
anjos.

Ø Relação entre os versículos 1 e 2 de Gênesis capítulo 6
Em Gênesis 6.1 se lê: “Quando os homens (“ha Adam”) começaram a aumentar... e as
filhas (“banot”) lhes deram à luz”. “Ha adam” é genérico para humanidade, e “banot” se refere a toda sua descendência feminina. Seria arbitrário, no próximo versículo, limitar “adam” aos setitas e “banot” aos cainitas.

Ø Judas versos 6 e 7 se refere ao acontecimento de Gênesis 6
E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria
habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; Assim como Sodoma e Gomorra , e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles , e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. (Grifos nossos)

Dos textos mencionados seria possível extrair algumas conclusões:

§ Judas compara o pecado de Sodoma e Gomorra com o pecado dos anjos ao afirmar “como aqueles”. Os pecados de Sodoma e Gomorra (homossexualismo) se parece mais com a mistura de anjos com homens, que seria o caso de Gênesis 6, do que com a rebelião de satanás.5

§ Estes anjos estão em prisões, ou seja, com tratamento diferenciado dos anjos que se rebelaram com Satanás, pois estes estão soltos.6


Ø Anjos podem se “humanizar”
Anjos foram confundidos com homem em Sodoma. Estes mesmo anjos comeram com
Abraão (Gn 18.8). Algumas pessoas, aliás, praticando a hospitalidade, acolheram anjos
(Hb 13.1), demonstrando essa capacidade de se humanizar.

Ø Corroboração de literatura extrabíblica
Muitos escritos extrabíblicos, datando dos séculos 2º a.C ao século 2º d.C, dão suporte à idéia de serem anjos os filhos de Deus citados em Gênesis 6.

I Enoque, 6.1 – Quando outrora aumentou o número dos filhos dos homens, nasceram-lhes filhas bonitas e amoráveis. Os anjos, filhos dos céus, ao verem-nas,
desejaram-nas e disseram entre si: “Vamos tomar mulheres dentre as filhas dos homens e gerar filhos.

OBS. Os defensores deste ponto de vista destacam o fato de que este livro de Enoque foi citado pelo livro inspirado de Judas, presente na Bíblia (Judas verso 14 seria uma citação de I Enoque 1.6). E é justamente Judas, no verso 6, que fala de anjos que não guardaram seu estado original – texto acima já analisado.

II Baruque 56 Os anjos desfrutaram de liberdade (...), mas alguns desceram e misturaram-se com mulheres, e os que fizeram isso ficaram atormentados em correntes.

O Livro dos Jubileus, 5.1– E aconteceu que, quando os filhos dos homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra e nasceram filhas deles, que os anjos de Deus viram que eram belas à vista...

Gênesis Apócrifo (História de Lameque) - Diz ele, que certo dia Lameque, pai de Noé, voltando para casa de uma viagem de mais de nove meses, foi surpreendido
pela presença de um menino pequenino que, por seu aspecto físico externo em
absoluto não se enquadraria na família. Lameque levantou pesadas acusações contra sua mulher Bat-Enosh e afirmou que aquela criança não se originara dele. Bat-Enosh se defendeu, jurando por tudo que lhe era sagrado que o sêmem só poderia ser dele, do pai Lameque, pois na ausência do marido ela não teve o menor contato com nenhum soldado, nem de um estranho nem de um dos "filhos do céu".

Testamento dos Patriarcas, V, 2 – Fugi da prostituição, meus filhos. Proibi vossas mulheres e vossas filhas enfeitarem a cabeça e o rosto! Pois toda mulher que recorre a esses ardis atrai sobre si castigo eterno. Foi dessa maneira que elas também enfeitiçaram os Guardiões antes do dilúvio. Eles olhavam-nas constantemente, e assim conceberam o desejo por elas. Engendraram o ato em sua mente, e transformaram-se em figuras humanas. E quando aquelas mulheres deitavam-se com os seus maridos, eles vinham e mostravam-se. E as mulheres em seu pensamento conceberam desejos pelas formas visíveis deles, e assim deram a luz a gigantes; pois os Guardiões apareciam-lhes como tendo a estatura do céu.

Ø Testemunhos e Experiências
São muitos os casos de pessoas que afirmam que tiveram relações sexuais com demônios antes de se converterem ao evangelho. Estes relatos normalmente se originam de ex-satanistas e outros grupos do mesmo gênero. Assim, teríamos a prova de que espíritos podem relacionar-se sexualmente com seres humanos.

Ø Mitologia
Alguns defensores desta teoria afirmam que, provavelmente, os relatos mitológicos de homens de grande força e até de deuses possuem fundamento histórico nos Nefilins. Há relatos paralelos dos gregos e romanos que mencionam titãs, criaturas parte humanas parte divinas.
No mundo antigo freqüentemente se contavam histórias de relações sexuais entre os deuses e os seres humanos. Acreditava-se que os filhos semidivinos de tais uniões possuíssem uma energia anormal e também outros poderes. Na Mesopotâmia e em Canaã, casamentos divino-humanos eram celebrados em rituais matrimoniais sagrados que ocorriam no templo.

d) Conclusão
Podemos afirmar que esta posição possui uma lista notável de defensores. Bons argumentos também são apresentados. Claro que muitos mistérios ecoam em nossas mentes (Por que os anjos foram atraídos pelas mulheres? Isso pode acontecer novamente? Como puderam gerar vida?). Todavia, uma posição não pode ser rejeitada por ser difícil. O importante é definir: “Seria esta teoria bíblica”?

3° POSIÇÃO – OS “FILHOS DE DEUS” ERAM REIS DA ANTIGUIDADE

a) Apresentação

Segundo este ponto de vista, os poderosos reis da antiguidade, chamados de filhos da divindade, tomavam as mulheres que lhes agradavam quando estas se casavam. Assim, na primeira noite de núpcias, elas eram tomadas de seus maridos para relações sexuais com os reis. Outros afirmam que se refere à criação dos primeiros haréns (Sayão).
De qualquer forma a interpretação se baseia na idéia de que filhos de Deus seria reis e homens poderosos da antiguidade.

b) Defensores;

Ø Comentário Bíblico Atos do Antigo Testamento, Editora Atos, pg. 35
Ø Luiz Sayão, Comentário Rota 66.

c) Argumentos;

Ø Práticas Antigas
A prática de casar-se com mulheres que lhes agradaram provavelmente referem-se ao
“direito da primeira noite”, citado como uma das práticas opressivas dos reis no Épico de Gilgamés. O rei podia exercer seu direito, como representante dos deuses, de passar a noite de núpcias com qualquer mulher que tivesse acabado de se casar.

Ø Esta explicação esclarece melhor o termo “escolheram para si”
Por exemplo, Faraó levava para o leito a quem queria (Gn 12.10-20), e assim fez Davi (I
Sm 11).

Ø Reis da antiguidade eram chamados de filhos dos deuses
No antigo Oriente Próximo, acreditava-se que os reis tinham uma relação filial com os
deuses, por terem sido gerados pela divindade.

d) Conclusão
Este ponto de vista é gramaticalmente possível. Tornaria, também, o entendimento mais simplificado. Porém, será que este pecado justificaria o Dilúvio? Se outras situações aparentemente mais graves não receberam drástica intervenção (inclusive esse mesmo ato é registrado ao longo da história em outras ocasiões), teria ocorrido a inundação na terra por este motivo? Ficam as dúvidas.

4° POSIÇÃO – “FILHOS DE DEUS” ERAM REIS DA ANTIGUIDADE POSSESSOS POR DEMÔNIOS (COMBINAÇÃO DAS 1° E 3° POSIÇÕES)

a) Apresentação
Nesse ponto de vista há uma combinação de idéias. Por um lado aceita-se a hipótese de que anjos se envolveram no ato. Todavia, para solucionar algumas dificuldades com essa idéia, acrescentam o fato de que eles usaram seres humanos na prática deste pecado.

b) Defensores

Ø Comentários do Antigo Testamento – Gênesis, Editora Cultura Cristã, pgs.139-141
Ø Bíblia de Estudo MacArthur, Editora SBB, pg. 25
Ø Bíblia de Estudo de Genebra, pg. 18

c) Argumentos
Os expoentes desta ponte de vista usam os argumentos oferecidos para provar que anjos se envolveram no ato (ver segunda posição). Todavia, para superar algumas dificuldades desse ponto de vistas, incluem a peculiaridade de que homens foram utilizados como instrumentos para o ato.

CONCLUSÃO
Discussões, polêmicas, defensores, argumentos, etc. Como vimos Gênesis 6 inspira um grande debate. Para muitos o texto apresentado apenas aumentou o problema, pois demonstrou o amplo alcance da disputa.
Não se preocupe, não há qualquer indício de que a correta interpretação de Gênesis 6 é determinante para entrada no céu (aliás, todas as provas apontam em sentido contrário).

Como apaixonados pela Bíblia que somos, devemos sempre tentar entender os detalhes das Escrituras. Porém, não podemos deixar de frisar em alguns assuntos não há problemas em dizer: “Não tenho certeza”.
Isso pode ocorrer principalmente em textos não essenciais como este. Caso o leitor tenha se definido por um ponto de vista, aconselho-o a não “comprar briga” por causa dele. Gaste mais energia com a Trindade, Divindade de Jesus, Ressurreição de Jesus, Justificação, Inerrância das Escrituras, Pessoalidade do Espírito Santo, etc.
Como foi escrito em algum lugar, “Nos assuntos essenciais, unidade. Nos assuntos de dúvida, liberdade. Em todas as coisas, caridade”. 

1 Teologia Sistemática, pg; 336.
2 Aqueles que defendem se tratar de anjos em Gênesis 6, afirmam que Jesus enfatizou que anjos NO CÉU não se casam ou se
dão em casamento. No céu realmente não casam. Mas isso não impossibilita o acontecimento na terra (ex. William Macdonald)
3 Naquele tempo se refere ao versículo 1, ou seja, no tempo em que os homens se multiplicaram na terra. Não há qualquer referência a uma raça pré-adâmica
4 Pg. 980.                  
Por fim, como os seres humanos teriam tranqüilidade se anjos, fora da vontade de Deus, resolvessem relacionar-se sexualmente com humanas outras vezes?
5 Aqueles que são contrários à ideia de anjos afirmam que “aqueles” se refere à Sodoma e Gomorra. Assim, as cidades vizinhas
imitaram as práticas de Sodoma e Gomorra. Outros afirmas que “aqueles se refere ao versículo 4, ou seja, os indivíduos que se
introduziram na igreja em dissimulação, homens ímpios.
6 Os que se opõe a este ponto de vista afirmam que anjos aprisionados aparecem em outros lugares na Bíblia. Seria o caso de
Apocalipse 9, que fala de seres aprisionados no abismo. Em Marcos 5 também os demônios pedem para não serem lançados no
abismo. Assim, afirmam que na rebelião de satanás, parte dos anjos, seja pela posição que exerciam, seja pela gravidade de seus
pecados, receberam tratamento diferenciado dos demônio que estão soltos.
Assim, a melhor explicação para Judas 6 seria a queda dos anjos em Gênesis 6.


Elaborado por Samuel Munhoz