QUEM ERAM OS
FILHOS DE DEUS EM GÊNESIS 6?
TEXTO-CHAVE: GÊNESIS 6.2
Viram
os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si
mulheres de todas as que escolheram.
Poucos textos das Escrituras
são capazes de gerar tantas dúvidas e divergências como o de Gênesis 6.2. Tal
situação para o estudante da Bíblia torna-se ainda mais difícil diante do fato
de que há mais de uma posição razoavelmente defensável, defendidas por
excelentes eruditos dos escritos sagrados. Seriam os Filhos de Deus anjos,
descendentes de sete, ou reis? E as filhas dos homens, são mulheres
descendentes de Adão ou especificamente descendentes de Caim?
Este estudo tem o objetivo de apresentar
diversas interpretações conflitantes sobre o tema. Longe
de fechar questão, nosso objetivo é conduzir o leitor em uma visão abrangente do debate.
Embora não adotemos explicitamente um ponto de vista, criticaremos alguns que
nos parecem fugir do âmbito de permissão das Escrituras.
Antes de iniciarmos, vale uma
advertência: tendo em vista a concorrência de boas opiniões sobre o assunto,
particularmente adotamos a postura de que este texto não deve ser utilizado de forma isolada para sustentar doutrinas
cristãs.
Qualquer ensinamento que exija o comprometimento com alguma interpretação
específica desse texto demonstra sua fragilidade. Não estou dizendo que
qualquer texto em que exista uma divergência de opiniões não deve ser usado
para estabelecer doutrina. Este texto é um caso isolado, pois mais de um ponto
de vista é coerente. Em inúmeros outros versículos há divergências, mas
percebe-se notadamente que uma interpretação é muito mais sólida com toda a
Escritura. Não nos parece ser o caso de Gênesis 6.2. Aqui duas ou três posições
possuem uma lista de argumentos notáveis.
Assim, não devemos classificar um
grupo como ortodoxo e outro como herético simplesmente por divergência nessa
questão.
Diante de todo o exposto,
convido o caro leitor a ingressar no estudo e análise de um dos textos mais
misteriosos e polêmicos de toda a Bíblia. Seguiremos o mesmo formato para todos
os pontos de vista: Apresentação, principais defensores, argumentos utilizados
e uma breve conclusão. Aproveite a leitura!
1° POSIÇÃO
OS “FILHOS DE DEUS” ERAM DESCENDENTES DE SETE.
AS FILHAS DOS HOMENS ERAM DESCENDENTES DE CAIM
a) Apresentação
Essa tem sido a interpretação
cristã mais tradicional desde o século 3º d.C. Segundo este entendimento os
Filhos de Deus são os descendentes de Sete. Já as filhas dos homens são descendentes
de Caim. Nesse sentido, a mistura dessas duas sementes contaminou a linhagem
piedosa de Sete. O remédio para este “jugo desigual” foi o dilúvio.
b) Defensores;
Ø Efrém da Síria (306-373 d.C)
Ø Agostinho de Hipona (354-430 d.C)
Ø Martinho Lutero (1483-1546 d.C)
Ø João Calvino (1509-1564 d.C)
Ø Bíblia de Estudo Apologética, pg 11
Ø Bíblia de Estudo Pentecostal, pg 41
Ø Wayne Grudem1
c) Argumentos;
Ø Anjos não se casam (Mateus 22.30 e Marcos 12.25)2
A expressão “tomar para si” é
linguagem própria para referir-se ao casamento no Antigo Testamento. Se em
Gênesis 6 fossem anjos haveria uma contradição com a afirmação de Jesus.
Conforme afirma Keil, “no versículo 2 se declara
que “viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram
para si mulheres de todas as que escolheram” Ora, o termo hebraico “laqach
‘ishah”, tomar uma esposa, é uma frase que se mantém através de todo o Antigo
Testamento para a relação do matrimônio, estabelecida por Deus na criação, e
nunca se aplica a “porneia”, prostituição, relação sexual ilícita. Isto basta
para excluir qualquer referência aos anjos”. No mesmo sentido afirma
S.E.McNair que “A expressão “tomaram para si mulheres” é usada por todo AT
somente com referência ao casamento legítimo, nunca às relações sexuais
ilícitas.”
Ø Os textos seguintes a Gênesis 6.2 demonstram que o juízo do
dilúvio é contra a humanidade e não contra a esfera celestial
Especificamente, Gn 6.3 chama
os ofensores de “carne” (“basar”, mortal na NVI). Se os Filhos de Deus eram anjos, alguma
referência de juízo sobre eles deveria aparecer no texto também.
O verso 5 é claro em dizer
que o Senhor viu a “maldade do homem”. O versículo 6 diz
que o Senhor se arrependeu de
fazer “o homem”. O versículo 12 afirma que toda
“carne” havia se corrompido.
Conclui-se que apenas a humanidade esteve envolvida no pecado, pois todo o
contexto trata da maldade e do juízo dos seres humanos.
Ø O contexto não permite a presença de anjos
O contexto de Gênesis 4, 5 e
6 não admite a presença de anjos, mas apenas de seres
humanos. Não há referências a
anjos.
Ø O contexto aponta para duas linhagens
O Capítulo 4 trata da
descendência de Caim, apresentando poligamia e assassinato. A
genealogia de Caim começa com
Caim – Gênesis 4.17-24.
A partir do versículo 25 do
capítulo 4 até o final do capítulo 5 temos a descrição dos
descendentes de Sete. Ela
começa com Deus (5.1). Ela aponta para uma linhagem
piedosa. Vejamos:
Enos, filho
de Sete começou a invocar o nome do Senhor (Gn 4.26)
Enoque andou com
Deus, e Deus o tomou para si (Gn 5.22-23)
Lameque (parece
ser temente a Deus, pois atribui nome a Noé com significado
relacionado às verdades
espirituais – Gn 5.29).
Noé andava
com Deus e achou graça aos seus olhos (Gn 6. 8, 9)
Assim, pelo contexto, podemos
diferencias duas linhagens, estas melhor explicando as
expressões Filhos de Deus e
Filhas dos Homens. Note:
Filhos de Deus
Descendentes de Sete
Registro da genealogia remete a Deus –
Gn 5.1 (Por isso a
expressão “Filho de Deus”)
Linhagem marcada por ser
piedosa (Ex.
Enos, Enoque, Lameque e
Noé)
|
Filhas dos Homens
Descendentes de Caim
Registro da genealogia
começa em Caim –
Gn 4.17. (Por isso a
expressão “filhas dos homens”)
Linhagem marcada por ser
assassina e
polígama (Caim e Lameque)
|
Ø Gigantes (Nefilins) também aparecem em Números 13.33
Os Nefilins não são um grupo
exclusivo decorrente de eventual relação entre e homem e anjos. Se assim fosse,
como justificar a presença de Nefilins em Números 13.33 (mesma palavra de Gn
6)? Eram descendentes da família de Noé, não de anjos. Ressalte-se, ainda, que
Gn 6.4 afirma que naquele havia já havia gigantes na terra, antes do acontecimento
entre Filhos de Deus e filhas dos homens.3
Ademais, havia muitos outros
gigantes na época de Moisés, de Josué, de Davi e até mesmo em épocas mais
recentes. Ao lado vemos a foto de Robert Pershing Wadlow, com estatura de 2,75
(quase a mesma do Gigante Golias). Robert morreu em 1940.
Atualmente temos o ucraniano
Leonid Ivanovych Stadnyk, com cerca de 2,55 metros de estatura. Foi considerado
em 2008 como o homem mais alto do mundo.
Portanto, antes da relação
entre os Filhos de Deus com a filhas dos homens já existiam
gigantes, bem como depois do
Dilúvio.
Vale observar que traduzir
nefilins como gigantes é algo bastante duvidoso. Sobre o
assunto afirma o Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento: “Na
realidade, a tradução “gigantes”
fundamenta-se principalmente na LXX e pode trazer
bastante confusão. A palavra
pode ser de origem desconhecida e significar “heróis” ou
guerreiros
violentos.”4
Ø Anjos são espíritos (Hebreus 1.14)
Em Lucas 24.39 Jesus afirmou
que um espírito não tem carne e osso. Hebreus 1.14
afirma que anjos são
espíritos. Logo, anjos são incorpóreos. Não possuem órgãos
reprodutores. Se alguns anjos
comeram, isso se dá por estarem na companhia de Deus e a seu serviço, sendo
para isso capacitados por Deus. Os anjos caídos não tem essa capacidade. Note que
os demônios quando precisam de um corpo não se humanizam, mas possuem um ser
humano.
Ø Cada um segundo a sua espécie
Os seres criados por Deus se
reproduzem segundo a sua espécie. O ser humano é carne e o anjo é espírito.
Essa mistura gerando filhos violaria a impossibilidade de reprodução de
espécies distintas.
Por fim, ressalte-se que
criar vida humana parecer ser um trabalho reservado unicamente a Deus.
Ø Homens também são chamados de Filhos de Deus
A expressão Filhos de Deus
pode ser atribuída a seres humanos (Dt 14.1; Os 1.10;2.1). De acordo com Lc
3.37, 38, o próprio Adão é chamado de filho de Deus.
Ø Anjos bons não sentem desejos por mulheres. Anjos caídos não
poderiam ser chamados de filhos de Deus
Ø Os Livros apócrifos e pseudoepígrafos que afirmam serem os filhos
de Deus anjos foram produzidos em tempos gnósticos e com forte influência de mitologias
Os conteúdos destes livros
não são dignos de crédito. Possuem informações absurdas.
Exemplos:
o I Enoque afirma que os gigantes que nasceram da relação
entre anjos e humanos possuíam cerca de 1.300 metros de altura (3.000 côvados).
O edifício mais alto do mundo possui cerca de 800 metros de altura (foto ao
lado), ou seja, 500 metros
menor que os gigantes do
Livro de Enoque.
O Testemunho dos Doze Patriarcas afirma que os anjos foram
atraídos pelas
mulheres por causa dos
enfeites no rosto e no cabelo.
d) Conclusão
Este entendimento realmente
possui argumentos sólidos, bem como uma excelente lista de representantes. Se
ele estiver certa, o texto se torna mais simples e menos misterioso.
Todavia, não obstante à
solidez dos argumentos, esse ponto de vista não está sozinho. Outras opiniões,são
amplamente defendidas na comunidade cristã, apresentando, também, bons subsídios
para suas teses.
2° POSIÇÃO – OS “FILHOS DE
DEUS” ERAM ANJOS. AS FILHAS DOS HOMENS ERAM MULHERES DESCENDENTES DE ADÃO
a) Apresentação;
Bastante misteriosa, esta
corrente ensina que Gênesis 6 apresenta o relato da segunda queda dos anjos. Os
Filhos de Deus seriam anjos que tiveram relações sexuais com mulheres humanas, gerando
filhos. Diante dessa grave mistura o Dilúvio foi a única solução para o
ocorrido.
b) Defensores;
Ø Flávio Josefo, História dos Hebreus, CPAD, pg. 80.
Ø Justino Mártir, Segunda Apologia (100-165 d.C)
Ø Irineu de Lyon (130-202 d.C)
Ø Tertuliano (160-220 d.C)
Ø Clemente de Alexandria, (150-215 d.C)
Ø Nemésio de Emesa (400 d.C)
Ø Ambrósio de Milão (340-397 d.C)
Ø Comentário Bíblico Moody, Editora Batista Regular, pg. 16
Ø Comentário Bíblico Popular, Editora Mundo Cristão, pg. 17
Ø Comentário Bíblico Vida Nova, Editora Vida Nova, pg. 108
Ø Bíblia de Estudo Plenitude, pg. 12
Ø Bíblia de Estudo Anotada, pg. 13
Ø Manual Bíblico Unger, Editora Vida Nova, pg. 45
Ø Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume
1, pg. 58
Ø G.H. Pember, As eras mais primitivas da terra, tomo 1, pg.
205-218
Ø Codex Alexandrinus, do século V d.C
c) Argumentos;
Ø A Expressão “Filhos de Deus” (Jó 1.6; 2.1; 38.7)
Charles C. Ryrie, comentando
o texto de Gênesis 6, afirma que “a expressão filhos de
Deus é usada no AT quase
que exclusivamente com referência aos anjos”.
Nesse sentido, o mais natural
seria entender que aqui a expressão também se refere a
anjos.
Ø Relação entre os versículos 1 e 2 de Gênesis capítulo 6
Em Gênesis 6.1 se lê: “Quando
os homens (“ha
Adam”) começaram
a aumentar... e as
filhas (“banot”) lhes
deram à luz”. “Ha adam” é genérico para humanidade, e “banot” se
refere a toda sua descendência feminina. Seria arbitrário, no próximo
versículo, limitar “adam” aos setitas e “banot” aos cainitas.
Ø Judas versos 6 e 7 se refere ao acontecimento de Gênesis 6
E aos anjos que não
guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria
habitação, reservou na
escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; Assim como
Sodoma e Gomorra , e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à
fornicação como aqueles , e ido após outra carne, foram postas por exemplo,
sofrendo a pena do fogo eterno. (Grifos nossos)
Dos
textos mencionados seria possível extrair algumas conclusões:
§ Judas compara o pecado de Sodoma e
Gomorra com o pecado dos anjos ao afirmar “como aqueles”. Os pecados de Sodoma
e Gomorra (homossexualismo) se parece mais com a mistura de anjos com homens, que
seria o caso de Gênesis 6, do que com a rebelião de satanás.5
§ Estes anjos estão em prisões, ou
seja, com tratamento diferenciado dos anjos que se rebelaram com Satanás, pois
estes estão soltos.6
Ø Anjos podem se “humanizar”
Anjos foram confundidos com
homem em Sodoma. Estes mesmo anjos comeram com
Abraão (Gn 18.8). Algumas
pessoas, aliás, praticando a hospitalidade, acolheram anjos
(Hb 13.1), demonstrando essa
capacidade de se humanizar.
Ø Corroboração de literatura extrabíblica
Muitos escritos
extrabíblicos, datando dos séculos 2º a.C ao século 2º d.C, dão suporte à idéia
de serem anjos os filhos de Deus citados em Gênesis 6.
I Enoque, 6.1 –
Quando outrora aumentou o número dos filhos dos homens, nasceram-lhes filhas
bonitas e amoráveis. Os anjos, filhos dos céus, ao verem-nas,
desejaram-nas e disseram
entre si: “Vamos tomar mulheres dentre as filhas dos homens e gerar filhos.
OBS. Os
defensores deste ponto de vista destacam o fato de que este livro de Enoque foi
citado pelo livro inspirado de Judas, presente na Bíblia (Judas verso 14 seria
uma citação de I Enoque 1.6). E é justamente Judas, no verso 6, que fala de
anjos que não guardaram seu estado original – texto acima já analisado.
II Baruque 56 – Os anjos desfrutaram
de liberdade (...), mas alguns desceram e misturaram-se com mulheres, e os que
fizeram isso ficaram atormentados em correntes.
O Livro dos Jubileus,
5.1–
E aconteceu que, quando os filhos dos homens começaram a multiplicar-se sobre a
face da terra e nasceram filhas deles, que os anjos
de Deus viram que eram belas à vista...
Gênesis Apócrifo
(História de Lameque) - Diz ele, que certo dia Lameque, pai de Noé, voltando
para casa de uma viagem de mais de nove meses, foi surpreendido
pela presença de um menino
pequenino que, por seu aspecto físico externo em
absoluto não se enquadraria
na família. Lameque levantou pesadas acusações contra sua mulher Bat-Enosh e
afirmou que aquela criança não se originara dele. Bat-Enosh se defendeu,
jurando por tudo que lhe era sagrado que o sêmem só poderia ser dele, do pai
Lameque, pois na ausência do marido ela não teve o menor contato com nenhum
soldado, nem de um estranho nem de um dos "filhos
do céu".
Testamento dos Patriarcas,
V, 2 –
Fugi da prostituição, meus filhos. Proibi vossas mulheres e vossas filhas
enfeitarem a cabeça e o rosto! Pois toda mulher que recorre a esses ardis atrai
sobre si castigo eterno. Foi dessa maneira que elas também enfeitiçaram os Guardiões
antes do dilúvio. Eles olhavam-nas constantemente, e assim conceberam o
desejo por elas. Engendraram o ato em sua mente, e transformaram-se em figuras
humanas.
E quando aquelas mulheres deitavam-se com os seus maridos, eles vinham e
mostravam-se. E as mulheres em seu pensamento conceberam desejos pelas formas
visíveis deles, e assim deram a luz a gigantes; pois os Guardiões apareciam-lhes
como tendo a estatura do céu.
Ø Testemunhos e Experiências
São muitos os casos de
pessoas que afirmam que tiveram relações sexuais com demônios antes de se
converterem ao evangelho. Estes relatos normalmente se originam de
ex-satanistas e outros grupos do mesmo gênero. Assim, teríamos a prova de que
espíritos podem relacionar-se sexualmente com seres humanos.
Ø Mitologia
Alguns defensores desta
teoria afirmam que, provavelmente, os relatos mitológicos de homens de grande
força e até de deuses possuem fundamento histórico nos Nefilins. Há relatos
paralelos dos gregos e romanos que mencionam titãs, criaturas parte humanas parte
divinas.
No mundo antigo freqüentemente
se contavam histórias de relações sexuais entre os deuses e os seres humanos.
Acreditava-se que os filhos semidivinos de tais uniões possuíssem uma energia
anormal e também outros poderes. Na Mesopotâmia e em Canaã, casamentos
divino-humanos eram celebrados em rituais matrimoniais sagrados que ocorriam no
templo.
d) Conclusão
Podemos afirmar que esta
posição possui uma lista notável de defensores. Bons argumentos também são
apresentados. Claro que muitos mistérios ecoam em nossas mentes (Por que os
anjos foram atraídos pelas mulheres? Isso pode acontecer novamente? Como
puderam gerar vida?). Todavia, uma posição não pode ser rejeitada por ser
difícil. O importante é definir: “Seria esta teoria bíblica”?
3° POSIÇÃO – OS “FILHOS DE
DEUS” ERAM REIS DA ANTIGUIDADE
a) Apresentação
Segundo este ponto de vista,
os poderosos reis da antiguidade, chamados de filhos da divindade, tomavam as
mulheres que lhes agradavam quando estas se casavam. Assim, na primeira noite
de núpcias, elas eram tomadas de seus maridos para relações sexuais com os
reis. Outros afirmam que se refere à criação dos primeiros haréns (Sayão).
De qualquer forma a
interpretação se baseia na idéia de que filhos de Deus seria reis e homens poderosos
da antiguidade.
b) Defensores;
Ø Comentário Bíblico Atos do Antigo Testamento, Editora Atos, pg.
35
Ø Luiz Sayão, Comentário Rota 66.
c) Argumentos;
Ø Práticas Antigas
A prática de casar-se com
mulheres que lhes agradaram provavelmente referem-se ao
“direito da primeira noite”,
citado como uma das práticas opressivas dos reis no Épico de Gilgamés. O rei
podia exercer seu direito, como representante dos deuses, de passar a noite de
núpcias com qualquer mulher que tivesse acabado de se casar.
Ø Esta explicação esclarece melhor o termo “escolheram para si”
Por exemplo, Faraó levava
para o leito a quem queria (Gn 12.10-20), e assim fez Davi (I
Sm 11).
Ø Reis da antiguidade eram chamados de filhos dos deuses
No antigo Oriente Próximo,
acreditava-se que os reis tinham uma relação filial com os
deuses, por terem sido
gerados pela divindade.
d) Conclusão
Este ponto de vista é
gramaticalmente possível. Tornaria, também, o entendimento mais simplificado.
Porém, será que este pecado justificaria o Dilúvio? Se outras situações
aparentemente mais graves não receberam drástica intervenção (inclusive esse
mesmo ato é registrado ao longo da história em outras ocasiões), teria ocorrido
a inundação na terra por este motivo? Ficam as dúvidas.
4° POSIÇÃO – “FILHOS DE DEUS”
ERAM REIS DA ANTIGUIDADE POSSESSOS POR DEMÔNIOS (COMBINAÇÃO DAS 1° E 3°
POSIÇÕES)
a) Apresentação
Nesse
ponto de vista há uma combinação de idéias. Por um lado aceita-se a hipótese de
que anjos se envolveram no ato. Todavia, para solucionar algumas dificuldades
com essa idéia, acrescentam o fato de que eles usaram seres humanos na prática
deste pecado.
b) Defensores
Ø Comentários do Antigo Testamento – Gênesis, Editora Cultura
Cristã, pgs.139-141
Ø Bíblia de Estudo MacArthur, Editora SBB, pg. 25
Ø Bíblia de Estudo de Genebra, pg. 18
c) Argumentos
Os expoentes desta ponte de
vista usam os argumentos oferecidos para provar que anjos se envolveram no ato
(ver segunda posição). Todavia, para superar algumas dificuldades desse ponto de
vistas, incluem a peculiaridade de que homens foram utilizados como
instrumentos para o ato.
CONCLUSÃO
Discussões, polêmicas,
defensores, argumentos, etc. Como vimos Gênesis 6 inspira um grande debate. Para
muitos o texto apresentado apenas aumentou o problema, pois demonstrou o amplo
alcance da disputa.
Não se preocupe, não há
qualquer indício de que a correta interpretação de Gênesis 6 é determinante
para entrada no céu (aliás, todas as provas apontam em sentido contrário).
Como apaixonados pela Bíblia
que somos, devemos sempre tentar entender os detalhes das Escrituras. Porém,
não podemos deixar de frisar em alguns assuntos não há problemas em dizer: “Não
tenho certeza”.
Isso pode ocorrer
principalmente em textos não essenciais como este. Caso o leitor tenha se
definido por um ponto de vista, aconselho-o a não “comprar briga” por causa
dele. Gaste mais energia com a Trindade, Divindade de Jesus, Ressurreição de
Jesus, Justificação, Inerrância das Escrituras, Pessoalidade do Espírito Santo,
etc.
Como foi escrito em algum
lugar, “Nos assuntos essenciais, unidade. Nos assuntos de dúvida, liberdade. Em
todas as coisas, caridade”.
1 Teologia Sistemática, pg; 336.
2 Aqueles que defendem se tratar de
anjos em Gênesis 6, afirmam que Jesus enfatizou que anjos NO CÉU não se casam
ou se
dão em casamento. No céu realmente
não casam. Mas isso não impossibilita o acontecimento na terra (ex. William
Macdonald)
3 Naquele tempo se refere ao
versículo 1, ou seja, no tempo em que os homens se multiplicaram na terra. Não
há qualquer referência a uma raça pré-adâmica
4 Pg.
980.
Por fim, como os seres humanos teriam
tranqüilidade se anjos, fora da vontade de Deus, resolvessem relacionar-se
sexualmente com humanas outras vezes?
5 Aqueles que são contrários à ideia
de anjos afirmam que “aqueles” se refere à Sodoma e Gomorra. Assim, as cidades
vizinhas
imitaram as práticas de Sodoma e
Gomorra. Outros afirmas que “aqueles se refere ao versículo 4, ou seja, os
indivíduos que se
introduziram na igreja em
dissimulação, homens ímpios.
6 Os que se opõe a este ponto de
vista afirmam que anjos aprisionados aparecem em outros lugares na Bíblia.
Seria o caso de
Apocalipse 9, que fala de seres
aprisionados no abismo. Em Marcos 5 também os demônios pedem para não serem
lançados no
abismo. Assim, afirmam que na
rebelião de satanás, parte dos anjos, seja pela posição que exerciam, seja pela
gravidade de seus
pecados, receberam tratamento
diferenciado dos demônio que estão soltos.
Assim, a melhor explicação para Judas
6 seria a queda dos anjos em Gênesis 6.
Elaborado por Samuel
Munhoz
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