Perdão
A palavra perdão não é muito popular. Na verdade, ela sempre
foi odiada. Hoje, há uma tentativa de fuga desse principio cristão. As pessoas
que ofenderam o próximo não mais pedem perdão, antes, diminuem sua expressão
para algo menor como o pedido de desculpa, quando não usam uma forma muito mais
inferior, como, foi mal.
Por que isso acontece? Por que é tão difícil pedir
simplesmente perdão? Creio que o porquê está no cerne de uma sociedade egoísta
e orgulhosa, onde pedir perdão denota fraqueza. Os fortes não se rebaixam a
essa atitude de fracos. O profeta dessa geração assim os ensinou e eles como
bons discípulos aprenderam e seguem fielmente suas palavras. Friedrich Nietsche
dizia que os principais princípios cristãos deviam ser apagados da memória
humana. O super homem Nietscheano não pode comungar dessas limitações dos
fracos. Perdão, misericórdia, compaixão, não existem no vocabulário dos mais
fortes.
Por isso, falar sobre perdão nessa geração é uma verdade
inconveniente. Ela nos deixa incomodados, revoltados e decepcionados. E isso é
tão forte que adentrou as portas da comunidade do perdão. Onde a graça deveria
reinar o que se mais vê são o rancor, ódio, amargura e vingança no trono do
coração dos pequenos cristos. Muitos se dizem cristãos, mas sem seguir o
exemplo de Cristo. Diante dessa
hipocrisia C. S Lewis disse o seguinte:
“O PERDÃO É UMA
COISA MUITO BONITA, ATÉ CHEGAR UM DIA EM QUE TEREMOS QUE PERDOAR.”
Muitos pensam que perdão é um sentimento, e chegam à
conclusão que eles têm que sentir para perdoar o seu próximo. Mas o que esses
não entendem é que perdão não está baseado no que sinto, mas na minha volição.
Perdoar para um cristão não é uma questão de sentir ou não, mas de obrigação. É
um dever, não uma opção. O nosso Senhor nos deu uma ordem para perdoarmos assim
como ele nos perdoou. Se não entendermos o significado da palavra servo,
pensaremos que a ordem de Cristo pode ser questionada, ou desviada do seu
propósito. Mas como os textos de Jesus sobre esse assunto são tão claros, não
há possibilidade alguma de se chegar à outra interpretação.
Perdoar é apenas seguir o que primeiro nosso Mestre fez, mas
não liberar perdão é cair em desobediência diante de uma ordem clara. Aqueles
que não perdoam, não podem ser chamados de cristãos. Ser cristão é ser como
cristo é. E essa questão é tão séria que o senhor não deixa margem
para nenhum engano. Mateus 18. 15 deixa bem claro que a liberação do perdão não
pode ser de boca pra fora. Não é apenas algo exterior, mais principalmente do
interior. Os cristãos devem perdoar do intimo do seu coração. Não há possibilidade de mentira, Deus conhece
nossa sinceridade.
Diante disso poderíamos até acusá-lo por nos fazer sofrer
tanto diante dessa vergonha. Por que o Senhor nos expõe a esse vexame de
perdoar aqueles que nos fizeram tanto mal? A acusação teria validade se Deus
não tivesse experimentado essa situação. Mas não há argumentos contra Aquele
que foi o primeiro ofendido, e mesmo diante da ofensa liberou perdão ante uma
clara rebelião.
E a sua forma de liberar perdão foi vergonhosa, vexatória,
humilhante e debaixo de um grande sacrifício. Ele escolheu há forma mais
desonrosa para nos liberar dos pecados cometidos contra Ele. A cruz foi onde
Deus se tornou justo e justificador daqueles que crêem em Jesus. Ela é o único
fundamento sobre a qual Deus nos perdoa.
Pensamos ser simples o fato de Deus ser justo e
justificador. Mas é de uma complicação tremenda. A nossa cabeça gentílica e
ocidental não consegue entender a profundidade dessas duas palavras: justo e
justificador. Para um judeu essas duas expressões não podem estar no mesmo
texto, muito menos separadas apenas por uma conjunção. Um atributo juntamente
com uma atitude de graça demonstrada há um pecador era impossível, impensável e
inimaginável. Diante do pecador, Deus apenas se revela como O justo, derramando
toda a sua ira sobre o ímpio. Ele é
apenas justificador para os que o amam e seguem a sua lei, mas para o rebelde e
blasfemo, a parte que lhes cabe é a justiça, não a graça.
Mas como Deus pode ser justo e justificador diante do
pecador? A resposta a esse dilema é a cruz. O calvário é a realidade de uma
sombra do Antigo testamento. Deus Pai
ofereceu seu filho Jesus como sacrifício de propiciação. Foi através desse
sacrifício que a esperança raiou para todos, judeus e gentios. Através da
propiciação a salvação pode ser apropriada pela fé.
A palavra grega
hilasteryon é muito importante. Ela remonta a tampa da arca que era
conhecida como o propiciatório. Era nesse lugar que o sangue de um cordeiro perfeito
e inocente era derramado sobre os pecados de todo o povo. É uma figura da cruz
e do sangue derramado do cordeiro. O sacrifício de propiciação que Cristo
ofereceu ao seu Pai desviou toda a sua ira que estava direcionada sobre os
pecadores, para Ele mesmo. Quando Cristo recebeu a justiça de Deus sobre si,
desviou a sua ira e fez Deus Pai favorável a nós que cremos. Cristo recebeu a
justiça e Cristo se tornou a nossa Justiça. Já não há mais divida. Esse é o
significado de imputação. Ele perdoou o que devíamos ao Pai e colocou em nossa
conta a sua própria justiça. Não apenas uma quantidade necessária, mas o que
sobeja, isto é, Ele próprio. O filho fez propiciação e o Pai recebeu a oferta e
perdoou.
Note que Deus estava irado com o pecador e Ele derramou toda
a sua ira sobre Cristo na Cruz. Essa era a finalidade do madeiro, lugar onde
Deus se tornou justo e justificador. O Deus justo julgou o pecado em seu Filho,
e por isso pode justificar. Essa justiça é oferecida por Deus a todos, por que
todos pecaram e carecem da glória de Deus. Somente a cruz satisfez a justiça de
Deus. Somente ela pagou a nossa divida, desviou a ira de Deus e nos tornou
justos em Cristo. Sim, ainda pecamos, mas em cristo estamos assentados nas
regiões celestiais. Não somos ainda o que deveríamos ser, mas pela graça de
Cristo não somos o que éramos e caminhamos para ser o que Cristo é.
Essa graça não é barata. Ela é cara, pois custou o preço de
Deus. Não podemos baratear a morte de Cristo usando dessa graça para justificar
os nossos pecados. Esse sacrifício é de valor inestimável. Realmente é verdade
que a salvação é pela graça, mas não foi de graça. Mas o que deve estar bem
claro é que esse sacrifício não custou nada para nós, mas sim para Deus
Pai. Tudo o que venhamos a fazer para
pagar essa ação de graça é ínfimo diante de nossa divida. Nada do que venhamos
a fazer pagará o que Deus fez por nós. Custou caro para Deus, mas nada para o
pecador. Essa divida foi liberada através de nosso fiador, Cristo. Isso é
graça.
Nada ficou para trás para ser quitado. O nosso senhor
cancelou o que devíamos. Não há mais
meritocracia, nem obras para sermos perdoados. Nada mais é necessário para Deus
ser justo e justificador daqueles que confiaram na cruz. O que sobra para nós é
apenas gratidão pelo o que a trindade realizou em nosso favor. Gratidão que é
demonstrada pela obediência a sua vontade, que nós conhecemos como santidade.
Soli Deo Gloria
Silas Carvalho
Soli Deo Gloria
Silas Carvalho
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