sábado, 23 de maio de 2015

Perdão

A palavra perdão não é muito popular. Na verdade, ela sempre foi odiada. Hoje, há uma tentativa de fuga desse principio cristão. As pessoas que ofenderam o próximo não mais pedem perdão, antes, diminuem sua expressão para algo menor como o pedido de desculpa, quando não usam uma forma muito mais inferior, como, foi mal.

Por que isso acontece? Por que é tão difícil pedir simplesmente perdão? Creio que o porquê está no cerne de uma sociedade egoísta e orgulhosa, onde pedir perdão denota fraqueza. Os fortes não se rebaixam a essa atitude de fracos. O profeta dessa geração assim os ensinou e eles como bons discípulos aprenderam e seguem fielmente suas palavras. Friedrich Nietsche dizia que os principais princípios cristãos deviam ser apagados da memória humana. O super homem Nietscheano não pode comungar dessas limitações dos fracos. Perdão, misericórdia, compaixão, não existem no vocabulário dos mais fortes.

Por isso, falar sobre perdão nessa geração é uma verdade inconveniente. Ela nos deixa incomodados, revoltados e decepcionados. E isso é tão forte que adentrou as portas da comunidade do perdão. Onde a graça deveria reinar o que se mais vê são o rancor, ódio, amargura e vingança no trono do coração dos pequenos cristos. Muitos se dizem cristãos, mas sem seguir o exemplo de Cristo.  Diante dessa hipocrisia C. S Lewis disse o seguinte:

“O PERDÃO É UMA COISA MUITO BONITA, ATÉ CHEGAR UM DIA EM QUE TEREMOS QUE PERDOAR.”

Muitos pensam que perdão é um sentimento, e chegam à conclusão que eles têm que sentir para perdoar o seu próximo. Mas o que esses não entendem é que perdão não está baseado no que sinto, mas na minha volição. Perdoar para um cristão não é uma questão de sentir ou não, mas de obrigação. É um dever, não uma opção. O nosso Senhor nos deu uma ordem para perdoarmos assim como ele nos perdoou. Se não entendermos o significado da palavra servo, pensaremos que a ordem de Cristo pode ser questionada, ou desviada do seu propósito. Mas como os textos de Jesus sobre esse assunto são tão claros, não há possibilidade alguma de se chegar à outra interpretação. 

Perdoar é apenas seguir o que primeiro nosso Mestre fez, mas não liberar perdão é cair em desobediência diante de uma ordem clara. Aqueles que não perdoam, não podem ser chamados de cristãos. Ser cristão é ser como cristo é. E essa questão é tão séria que o senhor não deixa margem para nenhum engano. Mateus 18. 15 deixa bem claro que a liberação do perdão não pode ser de boca pra fora. Não é apenas algo exterior, mais principalmente do interior. Os cristãos devem perdoar do intimo do seu coração.  Não há possibilidade de mentira, Deus conhece nossa sinceridade.

Diante disso poderíamos até acusá-lo por nos fazer sofrer tanto diante dessa vergonha. Por que o Senhor nos expõe a esse vexame de perdoar aqueles que nos fizeram tanto mal? A acusação teria validade se Deus não tivesse experimentado essa situação. Mas não há argumentos contra Aquele que foi o primeiro ofendido, e mesmo diante da ofensa liberou perdão ante uma clara rebelião.
E a sua forma de liberar perdão foi vergonhosa, vexatória, humilhante e debaixo de um grande sacrifício. Ele escolheu há forma mais desonrosa para nos liberar dos pecados cometidos contra Ele. A cruz foi onde Deus se tornou justo e justificador daqueles que crêem em Jesus. Ela é o único fundamento sobre a qual Deus nos perdoa.

Pensamos ser simples o fato de Deus ser justo e justificador. Mas é de uma complicação tremenda. A nossa cabeça gentílica e ocidental não consegue entender a profundidade dessas duas palavras: justo e justificador. Para um judeu essas duas expressões não podem estar no mesmo texto, muito menos separadas apenas por uma conjunção. Um atributo juntamente com uma atitude de graça demonstrada há um pecador era impossível, impensável e inimaginável. Diante do pecador, Deus apenas se revela como O justo, derramando toda a sua ira sobre o ímpio.  Ele é apenas justificador para os que o amam e seguem a sua lei, mas para o rebelde e blasfemo, a parte que lhes cabe é a justiça, não a graça.
Mas como Deus pode ser justo e justificador diante do pecador? A resposta a esse dilema é a cruz. O calvário é a realidade de uma sombra do Antigo testamento.  Deus Pai ofereceu seu filho Jesus como sacrifício de propiciação. Foi através desse sacrifício que a esperança raiou para todos, judeus e gentios. Através da propiciação a salvação pode ser apropriada pela fé.

A palavra grega hilasteryon é muito importante. Ela remonta a tampa da arca que era conhecida como o propiciatório. Era nesse lugar que o sangue de um cordeiro perfeito e inocente era derramado sobre os pecados de todo o povo. É uma figura da cruz e do sangue derramado do cordeiro. O sacrifício de propiciação que Cristo ofereceu ao seu Pai desviou toda a sua ira que estava direcionada sobre os pecadores, para Ele mesmo. Quando Cristo recebeu a justiça de Deus sobre si, desviou a sua ira e fez Deus Pai favorável a nós que cremos. Cristo recebeu a justiça e Cristo se tornou a nossa Justiça. Já não há mais divida. Esse é o significado de imputação. Ele perdoou o que devíamos ao Pai e colocou em nossa conta a sua própria justiça. Não apenas uma quantidade necessária, mas o que sobeja, isto é, Ele próprio. O filho fez propiciação e o Pai recebeu a oferta e perdoou.

Note que Deus estava irado com o pecador e Ele derramou toda a sua ira sobre Cristo na Cruz. Essa era a finalidade do madeiro, lugar onde Deus se tornou justo e justificador. O Deus justo julgou o pecado em seu Filho, e por isso pode justificar. Essa justiça é oferecida por Deus a todos, por que todos pecaram e carecem da glória de Deus. Somente a cruz satisfez a justiça de Deus. Somente ela pagou a nossa divida, desviou a ira de Deus e nos tornou justos em Cristo. Sim, ainda pecamos, mas em cristo estamos assentados nas regiões celestiais. Não somos ainda o que deveríamos ser, mas pela graça de Cristo não somos o que éramos e caminhamos para ser o que Cristo é.

Essa graça não é barata. Ela é cara, pois custou o preço de Deus. Não podemos baratear a morte de Cristo usando dessa graça para justificar os nossos pecados. Esse sacrifício é de valor inestimável. Realmente é verdade que a salvação é pela graça, mas não foi de graça. Mas o que deve estar bem claro é que esse sacrifício não custou nada para nós, mas sim para Deus Pai.  Tudo o que venhamos a fazer para pagar essa ação de graça é ínfimo diante de nossa divida. Nada do que venhamos a fazer pagará o que Deus fez por nós. Custou caro para Deus, mas nada para o pecador. Essa divida foi liberada através de nosso fiador, Cristo. Isso é graça. 

Nada ficou para trás para ser quitado. O nosso senhor cancelou o que devíamos.  Não há mais meritocracia, nem obras para sermos perdoados. Nada mais é necessário para Deus ser justo e justificador daqueles que confiaram na cruz. O que sobra para nós é apenas gratidão pelo o que a trindade realizou em nosso favor. Gratidão que é demonstrada pela obediência a sua vontade, que nós conhecemos como santidade.

Soli Deo Gloria

Silas Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário