Pecado original
Por que pecamos? Parece ser uma pergunta simples, mas não é.
Ela é tão seria que um desvio de seu real significado influenciará toda a sua
teologia. A forma como responderemos a essa pergunta indicará se somos hereges
ou não. As respostas diante dessa dúvida é apenas duas:
Pecamos por que somos pecadores, ou somos pecadores porque
pecamos.
Há uma doutrina bíblica muito antiga chamada pecado original,
mais conhecido posteriormente como depravação total. Essa doutrina nos diz que
nascemos pecadores independentes se pecamos ou não. A causa disso é que herdamos
essa natureza caída de nosso pai Adão. Essa é a herança que ele nos deixou. Por
causa dela somos maus, depravados, rebeldes a lei de Deus, transgressores,
imorais, e a lista se estende. De uma
forma simples, aquilo que era reto se tornou, por causa do pecado, depravado. A
bíblia de genebra explica dessa forma:
A expressão “depravação
total” é comumente usada para tornar explicitas as implicações do pecado
original. Significa a corrupção de nossa natureza moral e espiritual, que é
total em principio, ainda que não em grau (porque ninguém é tão mau quanto
poderia ser). Nenhuma parte de nosso ser
está isenta de pecado, e nenhuma de nossas ações é tão boa quanto devia ser. Em
conseqüência, nada do que fazemos é meritório aos olhos de Deus. Não podemos
ganhar o favor de Deus, pouco importando o que fazemos; se a graça não nos
salvar, estamos perdidos.
Nascemos com a semente do pecado, esperando apenas o momento
de quebrar a lei que nossas mães nos impõem. Nesse momento é evidenciado o que
somos e quem somos. Aquele lindo bebê que acaba de quebrar a lei de Deus é um
depravado. A transgressão se inicia nos primeiros meses de vida do homem e a
incapacidade de agradar a Deus se torna real por causa do pecado. A conclusão é
que somos escravos e ponto final.
Mas um homem questionou tudo isso. Seu nome era Pelágio. Ele foi
um grande adversário de Agostinho e da verdadeira doutrina. Ele partiu da idéia
que o homem era capaz de agradar a Deus por ele mesmo. E o argumento usado por
ele é que se Deus mandou obedecer, o homem é capaz de realizar. A questão não
estava na evidência da incompetência do pecador em cumprir a vontade de Deus,
mas na possibilidade real disso acontecer, isto é, ele pode se quiser agradar a
Deus.
O homem é livre para não pecar. Não se trata de escravidão,
mas de decisão. Ninguém é pecador por natureza, mas ele comete pecado porque
decidiu pecar. Adão foi o primeiro pecador, mas ele não passou seu erro para a
sua descendência. Para Pelágio, se há pecado, ou se pecamos é por causa das
influências e circunstâncias ao nosso redor. Se tudo é favorável, não há porque
pecar. Não há pecadores, mas apenas atos isolados de pecado, dizia ele.
Mas realmente o pecador tem essa força de não pecar por
vontade própria? O livre arbítrio do depravado o leva a agradar a vontade de
Deus sempre que ele quiser? Se assim fosse, porque Jesus precisaria morrer? Se pecar
não é questão de constituição, mas de decisão, não precisava o Senhor dos céus
e da terra passar por tudo que ele passou. Ser um exemplo moral apenas, não
vale todo o sacrifício que Ele sofreu.
Mas a realidade de
nossas miseráveis vidas nos prova o contrário. Pecamos todos os dias. Os mesmos
erros insistem em nos mostrar o quanto depravados somos. Todos os dias temos
que pedir perdão. O perfeccionismo tão enfatizado por John Wesley é apenas uma
tentativa de fugir de nossa realidade. Somos escravos do pecado. Existe uma
velha natureza dentro de nós que se revela de uma forma horrível dia após dia. Aquela
história do velho índio mostra essa questão:
“Dentro de nós há dois lobos, um bom e um mal.
O vencedor será aquele que eu alimentar mais”.
Os que agora estão em Cristo, não são mais escravos do pecado,
mais são nova criação em Cristo. Mas a verdade que nos machuca é que a antiga
natureza, aquela que é escrava do pecado ainda habita em nós. É ela quem nos
empurra para a transgressão. Para quebrar a lei de Deus e assim nos afastar dEle.
Lutero dizia que somos santos pecadores, ou pecadores santos. Apesar de
vivermos para agradar a Deus, ainda agradamos a nós mesmos. Apesar de termos a
natureza de Cristo, ainda erramos o alvo.
Soli Deo Gloria
SPC
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