O Batismo com o Espírito Santo
BILLY GRAHAM
Há
muitos anos, quando eu estava freqüentando uma pequena escola bíblica na
Flórida, fui a uma “reunião de avivamento ao ar livre”. O discursante era um
pregador de avivamento sulista á antiga, e o espaço ao seu redor estava totalmente
tomado por umas duzentas pessoas. O pregador complementava com trovões o que
lhe faltava em lógica, o que agradava muito ao povo.
—
Vocês foram batizados com o Espírito Santo? — ele perguntou aos ouvintes
durante o sermão.
Aparentemente
ele conhecia diversas pessoas ali, porque apontou para um homem e perguntou:
—
Irmão, você foi batizado com o Espírito Santo? — E o homem respondeu:
—
Sim, graças a Deus!
—
Meu jovem — ele disse, apontando o dedo para mim, — você foi batizado com o
Espírito Santo?
—
Sim, senhor — eu respondi.
—
Quando você foi batizado com o Espírito Santo? — ele continuou. Ele não tinha
perguntado isto aos outros.
—
No momento em que recebi a Jesus Cristo como meu Salvador — eu respondi. Ele
olhou para mim com uma expressão surpresa, mas antes de passar para outra
pessoa, ele disse:
Não
duvido da sinceridade deste pregador. No entanto, durante os anos, estudando a
Bíblia, cheguei à conclusão que só há um batismo com o Espírito Santo durante a
vida de cada crente, e que ocorre no momento da conversão. Este batismo com o
Espírito Santo começou no dia de Pentecostes, e todos que conhecem a Jesus
Cristo como Salvador experimentaram isto, foram batizados com o Espírito no
momento em que foram regenerados. Além do mais, podem ser cheios com o Espírito
Santo; se não são, precisam ser.
A
maneira com que as Escrituras usam a palavra batismo mostra que ele é
algo inicial, tanto no caso do batismo com água como com o Espírito, e que não
se repete. Não achei nenhum versículo bíblico que indicasse uma repetição
do batismo com o Espírito. “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados
em um só corpo” (1 Co 12:13). O original grego deixa claro nesta passagem que
este batismo do Espírito Santo é uma ação completa, no passado.
Duas
coisas se destacam neste versículo: primeiro, que o batismo com o Espírito é
uma ação coletiva do Espírito de Deus; segundo, que inclui todos os crentes. O
Dr. W. Graham Scroggie disse uma vez em Keswick: “Observem com cuidado a quem o
apóstolo esta escrevendo e de quem ele esta falando.”
Ele
usa a palavra “todos” - “Paulo não esta escrevendo aos fieis
tessalonicenses, nem aos generosos filipenses, nem aos espirituais efésios, mas
aos coríntios, carnais (1 Co 3:1)”, Scroggie continua. A Indicação clara é que
o batismo com o Espírito está ligado a como estamos diante de Deus, não
a nossa situação espiritual momentânea; a nossa posição, e não a nossa experiência.
Isto
se torna ainda mais claro se examinarmos as experiências dos israelitas
descritas em 1 Coríntios 10:1-5. A palavra todos aparece cinco vezes nestes
versículos. “Todos sob a nuvem”, “todos passaram pelo mar”, “todos foram
batizados”, “todos comeram” e “todos beberam”. Foi depois que todas estas
coisas aconteceram com todas as pessoas que surgiram as diferenças:
“Entretanto,
Deus não se agradou da maioria deles” (1 Co 10:5). Em outras palavras, todos
faziam parte do povo de Deus. Mas Isto não significa que todos levaram uma vida
de acordo com o chamado de Deus para serem um povo santo. De modo semelhante
todos os crentes foram balizados com o Espírito Santo. Só que isto não quer
dizer que estão cheios ou controlados pelo Espírito. O que importa ó a grande
verdade central – quando eu venho a Cristo, Deus me dá o Seu Espírito.
Diferenças
que nos Dividem
Eu
sei que o batismo com o Espírito Santo foi entendido de maneiras diferentes por
alguns dos meus irmãos crentes. Não devemos evitar definir diferenças de
opinião específicas. Mas também devemos tentar entender uns aos outros, estar
dispostos a aprender uns dos outros enquanto procuramos saber o que a Bíblia
ensina. As diferenças de opinião sobre este assunto são semelhantes ás
diferenças de opinião sobre o batismo com água ou o governo da igreja. Alguns
batizam crianças; outros não. Alguns aspergem ou derramam; outros só imergem.
Alguns têm uma forma de governo congregacional; outros têm uma democracia
presbiteriana ou representativa; ainda outros têm uma forma do governo
episcopal. De maneira nenhuma estas diferenças deveriam nos dividir. Eu me
sinto maravilhosamente unido, especialmente na área da evangelização,
com cristãos de outros pontos de vista. Por outro lado, acho eu, a questão do
batismo com o Espírito Santo é muitas vezes mais importante que estes outros
assuntos, especialmente quando a doutrina sobre o batismo com o Espírito Santo
é distorcida. Alguns cristãos, por exemplo, defendem que o batismo com o
Espírito Santo só vem algum tempo depois
da conversão. Outros dizem que este batismo posterior com o Espírito
é indispensável para que a pessoa possa ser realmente usada por Deus. Ainda outros
acham que o batismo com o Espírito Santo sempre vem acompanhado com o sinal
externo de um dom especial, e se este sinal não se evidenciar a pessoa não foi
batizada com o Espírito.
Tenho
de admitir que houve ocasiões em que eu estava realmente disposto a crer neste
ensino. Eu também queria ter uma “experiência”. Mas eu quero que todas as
experiências tenham base bíblica. E me parece que a verdade bíblica é que nós
somos balizados no corpo de Cristo pelo Espírito na hora da conversão. Este é o
único batismo com o Espírito Santo. Neste exato momento nós podemos e
deveríamos ser enchidos pelo Espírito, e mais tarde mais cheios ainda, até a
borda. Diz-se ás vezes: “Batismo, uma vez; cheio, muitas.” Eu não vejo na
Escritura que este estar cheio do Espírito Santo é um segundo batismo, nem que
falar em línguas é indispensável para ser cheio do Espírito.
Às
vezes estas diferenças de opinião nada mais são que diferenças de expressão.
Como veremos no próximo capítulo, o que algumas pessoas chamam de batismo do
Espírito pode ser na verdade o que a Escritura chama do ser cheio do Espírito,
o que pode acontecer muitas vezes em nossa vida,depois da conversão.
Casualmente
há só sete passagens no Novo Testamento que falam diretamente do batismo com o
Espírito. Cinco destas passagens se referem ao batismo com o Espírito como
acontecimento futuro; quatro são palavras de João Batista (Mt 3:11, Mc 1:7,8,
Lc 3:16 e Jo 1:33) e uma é de Jesus, depois da Sua ressurreição (At 1:4,5). Uma
sexta paragem recapitula os acontecimentos e
experiências
do dia de Pentecostes (At 11:15-17), mostrando que são cumprimento das
promessas de João Batista e Jesus. Somente uma passagem – 1 Co 12:13 – fala da experiência
mais ampla de todos os crentes.
Em
meu ministério já conheci muitos cristãos que agonizavam, trabalhavam, lutavam
e oravam para “receber o Espírito”. Eu costumava perguntar-me se eu estava
errado em pensar que já que fui batizado pelo Espírito no corpo de Cristo no
dia da minha conversão não precisava de outro batismo. Mas quanto mais estudava
as Escrituras, mais ficava convicto do que estava certo. Acompanhe comigo o que
Deu: fez na semana da paixão de Cristo e cinqüenta dias depois em Pentecostes,
para ver que nós não precisamos procurar o que Deus já deu a cada crente.
Calvário
e Pentecostes
Quando
Jesus morreu na cruz, levou sobre Si nossos pecados “Deus condenou o pecado na
natureza humana, enviando Seu próprio Filho, que veio na forma da nossa
natureza pecaminosa para acabar com o pecado” (Rm 8:3 BLH).Isaías profetizou: “O
Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós (Is 53:6). Paulo disse: “Aquele
que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós” (2 Co 5:21). Isto fez com
que no santo Jesus estivesse o pecado de todo
o mundo.
Jesus
disse com muita clareza que Sua morte na cruz não seria o fim do Seu
ministério. Na noite antes da Sua morte Ele disse repetidamente aos discípulos
que enviaria o Espírito Santo. Naquela noite Jesus disse aos Seus discípulos: “Convém-vos
que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se
porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16:7). Antes de poder enviar o Espírito,
que é o Confortador, Jesus teve de ir: primeiro, para a morte na cruz; depois,
para a ressurreição; por último, para a direita do Pai. Só então pôde mandar o
Espírito
Santo,
no dia do Pentecostes. Depois da Sua morte e ressurreição, Ele lhes ordenou que
ficassem em Jerusalém, esperando o dom do Espírito “Permanecei, pois, na cidade
... até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49). Antes de subir aos
céus Ele lhes disse que ficassem em Jerusalém até que fossem “batizados com o
Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1:5).
Por
esta razão é que João Batista tinha proclamado a missão dupla de Cristo:
proclamou primeiro o ministério de Cristo como “o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo” (Jo 1:29); depois predisse que o ministério de Cristo no
Calvário seria seguido do Seu ministério batizando com o Espírito Santo (Jo
1:33).
Quando
Jesus ressuscitou dos mortos, este batismo com o Espírito, que indicaria a nova
época, ainda estava por vir; ocorreu cinqüenta dias depois da ressurreição. Dez
dias depois da ascensão velo Pentecostes. A promessa foi cumprida. O Espírito
Santo veio sobre 120 discípulos. Pouco depois, falando a uma multidão bem
maior, Pedro referiu-se ao “dom do
Espírito Santo.” Ele insistiu com seus ouvintes: “Arrependei-vos, e cada um
seja balizado ... e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2:38). John Stott
destaca que “não parece que os 3.000 experimentaram o mesmo fenômeno milagroso
(o vento impetuoso, as línguas de fogo, o falar em línguas estranhas). Nada é
dito sobre estas coisas. Mas pela promessa de Deus, feita através de Pedro,
eles devem ter herdado a mesma promessa e recebido o mesmo dom (versos 33 e
39). Mesmo assim, havia a diferença: os 120 já estavam regenerados, recebendo o
Espírito Santo depois de esperarem em Deus por dez dias. Os 3.000, incrédulos,
receberam o perdão dos seus pecados e o dom do Espírito ao mesmo tempo – e isto
aconteceu no mesmo instante em que se arrependeram e creram, sem necessidade de
esperar”. “É de grande importância esta distinção entre os dois grupos, de 120
e 3.000 pessoas, porque a regra para hoje com certeza deve ser o segundo grupo,
de 3.000 pessoas, e não o primeiro (como muitos pensam). O fato de a experiência
dos 120 se dar em duas etapas distintas deve-se simplesmente a circunstâncias
históricas. Eles não poderiam ter recebido o dom do Pentecostes antes de
Pentecostes. Mas estas circunstâncias históricas deixaram de existir há muito.
Nós vivemos depois de Pentecostes, como estes 3.000. Assim como eles, nós
recebemos o perdão dos pecados e o “dom” ou “batismo” do Espírito ao mesmo
tempo.”
Daquele
dia em diante o Espírito Santo esteve habitando no coração de todos os
verdadeiros crentes, a começar com os 120 discípulos que O receberam no dia de
Pentecostes. Quando eles receberam o Espírito Santo, Ele os uniu em um corpo
com Sua presença – o corpo místico de Cristo, que é a Igreja. É por isto que
eu, quando ouço termos como “ecumenismo” ou “movimento ecumênico”, digo comigo
mesmo: se nós nascemos de novo, o ecumenismo já existe. Estamos todos unidos
pelo Espírito Santo, que mora em nossos corações, sejamos presbiterianos,
metodistas, batistas, pentecostais, luteranos ou anglicanos.
É
verdade que houve diversas outras ocasiões, mencionadas pelo livro de Atos,
semelhantes a Pentecostes: o assim chamado “Pentecostes Samaritano” (At
8:14-17) e a conversão do Cornélio (At 10:44-48). No entanto, os dois acontecimentos
marcaram o início de um novo estágio na expansão da Igreja.
Os
samaritanos eram uma raça mista, desprezada por muitos como indigna do amor de
Deus. O batismo deles com o Espírito foi um sinal claro de que também eles
podiam ser do povo de Deus, pela fé em Jesus Cristo. Cornélio era gentio, e sua
conversão foi outro passo de destaque na divulgação do Evangelho. O batismo do
Espírito que ele e seus familiares receberam mostra que o amor de Deus era
também para os gentios. Tendo em vista tudo isso, nenhum cristão precisa
esforçar-se, esperar ou “orar até receber o Espírito.” Ele já O recebeu, não
com trabalho e lutas, sofrimento e oração, mas como presente da graça,
imerecido e não conquistado.
W.
Granam Scroggie certa vez falou em Keswick algo assim: “No dia do Pentecostes
foi formado o corpo de Cristo, pelo batismo do Espírito, e desde então cada
crente Individual, cada pessoa que aceita a Cristo pela fé simples, no mesmo
momento e por este mesmo ato se torna participante da bênção do batismo. Por
isso, esta bênção não precisa ser procurada para ser recebida depois da hora da
conversão”.
Explicação
de Três Possíveis Exceções
Eu
dei agora a impressão que todos os crentes têm o Espírito Santo, que na hora da
conversão e regeneração vem morar neles. No entanto, alguns têm insistido que o
livro de Atos nos dá diversos exemplos de pessoas que não receberam o Espírito
Santo quando creram pela primeira vez. Em vez disto, dizem, estes incidentes
indicam que o batismo com o Espírito ocorre depois de sermos incorporados no
corpo de Cristo. Três passagens nos interessam principalmente, quanto a este
assunto. Eu pessoalmente, quando crente jovem, achei difícil entender estas
passagens (até certo ponto ainda acho), e sei que muitas pessoas têm esta mesma
impressão. Não quero afirmar ter todas as respostas para as perguntas
levantadas por estas passagens, mas meu estudo do assunto me fez observar
certos fatos que podem ser de boa ajuda.
A
primeira passagem achamos em Atos 8, onde é relatada a viagem de Filipe a
Samaria. Ele pregou a Cristo e fez diversos milagres. Os samaritanos foram
emocionalmente estimulados, muitos fizeram profissão de fé e foram batizados.
Os apóstolos, em Jerusalém, estavam tão preocupados com o que estava
acontecendo em Samaria, que enviaram para lá dois de seus líderes, Pedro e
João, para investigar. Eles se depararam com uma grande agitação, com
muitas
pessoas prontas para receberem o Espírito. “Então lhes impunham as mãos, e
recebiam estes o Espírito Santo” (At 8:17).
Comparando
versículo com versículo, logo descobriremos um aspecto extraordinário desta
passagem: quando Filipe foi pregar em Samaria, era a primeira vez que o
evangelho era pregado fora de Jerusalém, evidentemente porque judeus e
samaritanos sempre tinham sido ferrenhos inimigos. Isto nos fornece a chave do
mistério por que o Espírito foi retido até que chegassem Pedro e João: para que
eles vissem pessoalmente que Deus recebia até samaritanos odiados que cressem
em Cristo. Depois disto não poderiam mais duvidar.
Observe
também o que aconteceu quando o Espírito do Senhor subitamente tomou Filipe e o
transportou até a estrada de Gaza, onde ele falou de Cristo ao eunuco etíope.
Quando o etíope creu e recebeu a Cristo, ele foi batizado com água. Mas Filipe
não fez nenhuma menção de impor-lhe as mãos e orar para que elo recebesse o
Espírito Santo, e nada foi dito sobre um segundo batismo. De forma que a
situação de Samaria, relatada em Atos 8, foi única, e não
combina com outras passagens da Escritura, comparando versículo com versículo.
Outra
passagem que traz para alguns certa dificuldade é a que trata da conversão de
Saulo na estrada de Damasco, como está registrada em Atos 9. Algumas pessoas
dizem que quando ele foi enchido com o Espírito Santo na presença de Ananias,
mais tarde (v 17), ele experimentou um segundo batismo do Espírito.
Novamente
temos uma situação única, em que Deus escolheu este perseguidor dos cristãos “para
levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de
Israel” (v 15). Quando Saulo chamou Jesus de “Senhor”, ele usou um termo que
modo significar “meu próprio senhor”, demonstrando que se convertera, ou
simplesmente “senhor”, um título de respeito e não uma profissão de fé. Sabemos
que mais tarde Ananias chamou Paulo de “irmão” (v 17), mas muitos judeus
daquele tempo chamavam-se de “irmãos”. Ele pode ter chamado Saulo de irmão no
sentido mais amplo, como em multas regiões do nosso país as pessoas chamam umas
às outras de “irmão”.
Em
outras palavras, quando ocorreu a regeneração de Saulo? Na estrada de Damasco,
ou durante aqueles três dias em que Ananias falou com ele (pode ter sido
durante toda a cegueira de Saulo)? Eu tenho certeza que muitas vezes o novo
nascimento é como o nascimento físico: a concepção, nove meses de gestação, e
depois o nascimento. Às vezes o Espírito Santo leva semanas para convencer uma
pessoa. Eu vi pessoas virem mais de uma vez à frente em
nossas
cruzadas, e só experimentarem a certeza da sua salvação na terceira ou quarta
vez. Quando estes foram regenerados? Só Deus-Espírito Santo sabe; pode ter sido
quando foram balizados ou confirmados, e eles vieram á frente para terem
certeza. Pode ser que alguns venham (como eu costumo dizer) para “reconfirmar
sua confirmação”.
Atos
9:17 diz ainda que Paulo ficou cheio do Espírito Santo. A palavra batismo não
aparece no versículo, e não é dito que falou em outras línguas quando ficou
cheio. A minha opinião é que mesmo se Paulo foi regenerado na estrada de
Damasco, quando mais tarde ficou cheio de Espírito isto não foi um segundo
batismo. Possivelmente sua regeneração só ocorreu
quando Ananias o visitou. De forma que esta
passagem não ensina que Paulo foi duas vezes batizado com o Espírito.
O
terceiro texto que deu motivos para alguma controvérsia encontramos em Atos
19:1-7. Paulo passou por Éfeso e encontrou doze discípulos que não tinham
recebido o Espírito Santo. Lendo esta passagem, imediatamente surge a pergunta:
estes doze eram cristãos verdadeiros antes de
se
encontrarem com Paulo? Pareciam não saber nada sobre o Espírito Santo e sobre
Jesus. Também falavam do batismo de João. Sem dúvida Paulo não viu no seu
primeiro batismo argumento suficiente para chamá-los de crentes.
Submeteu-os
a novo batismo na água, no nome de Cristo. Milhares de pessoas tinham ouvido
João ou Jesus durante os primeiros anos. Elas ficaram profundamente
impressionadas com o batismo de João, mas provavelmente perderam todo o contato
com os ensinos de João e Jesus nos anos intermediários. Assim, novamente temos
uma situação única. Só o fato de o apóstolo ter feito perguntas tão precisas
indica que ele duvidava que a conversão deles tenha sido uma experiência
genuína.
Mesmo
assim temos de analisar Atos 19:6 mais de perto: “E, impondo-lhes Paulo as
mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como
profetizavam”. O Dr. Merrill Tenney os chama de “crentes retardatários”. O
interessante é que todas estas coisas aconteceram ao mesmotempo. Não sabemos se
estas línguas são do tipo que Paulo aborda em 1 Coríntios 14 ou Lucas em Atos
2. A palavra “profetizavam” inclui a idéia de testemunho e proclamação. Ao que
parece, eles saíram para dizer aos seus amigos de que forma tinham chegado a
crer em Cristo. Na minha maneira de pensar, isto não é prova de um segundo
batismo com o Espírito, posterior ao batismo com o Espírito na hora da regeneração.
Parece-me antes que eles foram regenerados e balizados com o Espírito ao mesmo
tempo.
Em
resumo, eu creio que o dia de Pentecostes deu início è Igreja. Tudo o que
restava por fazer era integrar com destaque na Igreja samaritanos, gentios e “crentes
retardatários”. Isto aconteceu em Atos 8 com os samaritanos, em Atos 10 com os
gentios (de acordo com Atos 11:15), e em Atos 19 com crentes que sobraram do
batismo de João. Uma vez ocorrido este batismo representativo
com o Espírito, aplica-se o padrão normal – batismo com o Espírito cada vez que
uma pessoa crê em Cristo (sejam quais forem seus antecedentes).
A
Nossa Participação em Pentecostes
Pentecostes
inclui em seus efeitos não só os que estiveram presentes naquele momento, mas
também os que participaram nos séculos por vir. Talvez possamos usar aqui a
redenção como analogia. Cristo morreu uma vez, por todos; morreu por membros do
Seu corpo que ainda não tinham nascido ou sido regenerados. Desta forma você e
eu nos tornamos membros do Seu corpo, pela regeneração, através do derramamento
do Seu sangue, que aconteceu só um vez. De modo que você e eu participamos de
maneira similar desta nova realidade que é a Igreja. Nós entramos no corpo, que
foi formado com o batismo com o Espírito no dia de Pentecostes, quando “nos foi
dado beber de um só Espírito” (1 Co 12:13), e cada crente se torna participante
dos benefícios do corpo no momento da regeneração, da mesma forma que usufrui a
justificação, pelo sangue de Jesus derramado por ele. Assim o Senhor acrescenta
á Igreja os que vão sendo salvos (At 2:47).
Pode
parecer estranho dizer que os crentes de hoje participam de um acontecimento de
dois mil anos atrás. No entanto, a Bíblia traz muitos exemplos parecidos com a
redenção e o batismo com o Espírito Santo. Em Amós 2:10
Deus
disse ao Seu povo pecador: “Eu vos fiz subir da terra do Egito, e
quarenta anos vos conduzi pelo deserto” (grifo meu), apesar de o povo do tempo
do profeta Amós viver centenas do anos depois do Êxodo. Fato é que a nação é
tida como uma e contínua; o mesmo acontece com a Igreja.
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