sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O contraste entre a Igreja de Corinto e a Igreja Brasileira


O ensino não tem muito valor nas igrejas brasileiras. E aqueles que tentam nortear seu ministério baseados na teologia terão sérias dificuldades. A igreja pouco se importa com aquilo que é primordial para sua sobrevivência. Pensam que o ensino é algo destinado aos doutos, Pastores ou professores. Mas esse pensamento está longe da verdade.
Aqueles que se iniciam na teologia, realmente tendem a serem prolixos em suas pregações, mas creio que com o tempo e a experiência, essa dificuldade é substituída pela clareza nas palavras. Essa capacitação de expor as escrituras com facilidade não deve ferir princípios da palavra de Deus. Acham-se meios para pregá-lo, mas não artifícios para corrompê-lo.


Paulo se adequava ao contexto em que se encontrava, mas não negociava o evangelho. Era sempre o mesmo, só mudando a forma de pregá-lo, como pregá-lo e quando pregá-lo. Esse apóstolo era totalmente capaz de impressionar qualquer auditório, desde os mais simples, aos mais intelectuais. Mas o fato dele ser simples na pregação do evangelho em Corinto, após profunda pregação em Atenas, lhe trouxe problemas.

Paulo não usou de filosofia para com aqueles irmãos, mas da pregação pura e simples do evangelho. Isso escandalizou muitos daquela igreja. E o que eles queriam? Creio que palavras filosóficas sobre Deus. O povo das antigas era muito influenciado por Platão, Aristóteles e outros filósofos gregos, e esse fato é a causa do nascimento do gnosticismo, quando lideres começaram a misturar porções do evangelho com a filosofia grega.

Mas homem algum é salvo pela sabedoria ou pelo conhecimento humano. Ele é salvo pela proclamação pura e simples da verdade de Deus. Os judeus pediam um sinal, e os gregos sabedoria. Mas o que era lhes dado por Paulo e os apóstolos, era aquilo que podia saciar a fome e sede da alma humana, isto é, Cristo e esse crucificado. Essas simples palavras eram escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Pode Deus morrer de uma forma humilhante, ou um Deus se tornar um mero mortal, sujeito as suas fraquezas?

Era nesse contexto filosófico que aquela igreja se encontrava. Ela estava permeada pela sabedoria borbulhante da época, e essa influência adentrou os círculos cristãos. Eles queriam algo novo e impressionante. Nada simples os impactava, antes, era motivo de desprezo. E quando Paulo chegou pregando de uma forma bem direta, sem artifícios humanos, dependendo somente do poder da cruz e não da argumentação, foi rejeitado. Essa reação daqueles irmãos nos revela uma diferença abismal entre eles e nós:

A igreja de corinto queria sabedoria, mas a igreja brasileira quer experiências. A igreja de corinto queria filosofia, mas a igreja do Brasil preza pela ignorância. A igreja de corinto se impressionava pela retórica, a igreja brasileira fica maravilhada pelos milagres. A igreja de corinto se deleitava pelas coisas profundas de Deus, mas a igreja brasileira se satisfaz com arrepios e choros. Que contraste!
Algumas vezes já me deparei com argumentos vociferando que o evangelho é simples e que o senhor Jesus também era simples em suas palavras.

Mais Jesus, menos teologia, dizem os profetas da estupidez.

Mas quem lhes disse que o Senhor era simples em suas palavras? Se fosse não teria tanta confusão, denominação ou seitas. Até mesmo as parábolas que o nosso Senhor tirou do contexto judeu eram difíceis para eles. A prova é quando os discípulos pediam explicações e pela ignorância e cegueira dos fariseus.

Realmente é complicado trazer uma palavra de ensino a uma igreja tão diversificada em nossos dias. Homens e mulheres simples se assentam lado a lado com os mais capacitados intelectualmente.  Um meio termo tem que ser encontrado pelo pregador para que ele alcance toda a congregação e assim não caia nas palavras de C. S. Lewis:

Se não puder simplificar um argumento complicado para atrair a pessoa comum, haverá grande probabilidade de que aquele que o estiver explicando também não o entenda perfeitamente.

O que mais tem sido usado em nossos dias pelos pregadores não é o puro evangelho, muito menos uma boa filosofia, mas uma mistura entre psicologia e programação neurolinguística. Com esses artifícios o pregador pode levar pessoas à emoção, arrepios, falsa conversão, falsa cura ou a se entregar totalmente, sendo manipulada pelo pregador. É o que se pode ver nas reuniões de avivamento, ou cruzadas de milagres que estão em vigor por aí.

Muitos homens e mulheres que estão à frente de ministérios têm uma aparência de piedade, mas, no entanto negam a fé. São pomposos no falar, no vestir, no se portar, mas não tem nada de Deus. A pergunta a ser feita é qual poder esse tipo de pregador usa nas suas ministrações? Aqueles que têm intimidade com a palavra de Deus descobrirão a fonte desse poder.

Esse tipo de mensagem só gera convencidos, mas não convertidos. Esse tipo de pregação queima o campo, impede a propagação do evangelho, pois o escandaliza. Foi isso o que aconteceu a Charles Finney. Ele usou desses artifícios para alcançar os seus propósitos. Em suas cruzadas havia forte emoção, musicas emotivas, palavras desafiadoras, um clima celestial pré-programado, mas pouco ou nenhum evangelho que é o poder de Deus para a salvação verdadeira.
Há sempre muita euforia no inicio desses ministérios norteados por artifícios humanos, mas no fim será só decepção. Foi esse tipo de ensino confiado no poder da alma, no poder da emoção, ou no poder da persuasão que gerou e gera esse desastre.

O verdadeiro evangelho deve ser pregado no todo para o homem todo. Nada pode ficar de fora quando o destino de um pecador está em jogo. Nada deve ser ocultado, ou negado para o perdido. As palavras de Deus contidas na bíblia visam à maturidade, o desenvolvimento no caráter e o crescimento do servo. Nada disso é instantâneo, dura toda uma vida. Como disse Alan Redpath:

A conversão de uma alma é o milagre de um momento, a fabricação de um santo é tarefa de uma vida inteira.

O evangelho prepara o homem para as provas da vida. Mas não é isso que é visto nas grandes ou pequenas igrejas. É um evangelho cômodo sendo pregado.  Palavras que não confrontam e trás mudanças. Mas palavras fáceis de ouvir. E o resultado disso é que as pessoas pensam que estão salvas, quando na verdade ainda estão perdidas em seus pecados. Tanto em Corinto, como hoje na igreja brasileira, esses dois extremos são perigosos.

 A razão sem a piedade gerará liberais, mas a experiência sem a teologia gerará fanáticos fundamentalistas. A teologia abre nossos olhos para os falsos profetas tão vigentes em nossos dias. Mas a ignorância da verdade faz daqueles que desprezam o conhecimento, um cordeirinho caminhando para o matadouro, pensando que caminha para um paraíso.
Deus nos deu a capacidade de pensar, raciocinar e tomar decisões acertadas. Não menospreze aquilo que Seu Criador compartilhou com você. Use seu cérebro para aquilo que realmente importa no final, conhecer o Deus abscôndito revelado nas suas palavras.

A mente não é uma vasilha para ser enchida, mas um fogo para ser acendido.
Plutarco
Soli Deo Gloria

SPC

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